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CLÓVIS ROSSI
De machos e idéias
SÃO PAULO - A revista "Indústria Brasileira", obviamente editada pela
CNI (Confederação Nacional da Indústria), pescou, em seu número
mais recente, um economista chileno
para dizer coisas que vão além das
platitudes que dominam o debate
público no pobre país tropical.
É chileno, mas pode ler sem preconceito: ele, Gabriel Palma, fala inglês,
até porque leciona em Cambridge
(Reino Unido).
Para começar, Palma cunha uma
deliciosa expressão para definir a política monetária tupiniquim: "machomonetarismo". Quer dizer: o
Banco Central (com Gustavo Franco
ou agora) usa juros obscenos não por
necessidade, recomendação teórica
ou coisa parecida, mas para mostrar
ao mundo que é macho. Ridículo,
mas verdadeiro.
Depois, Palma diz: "O que se vê no
Brasil é falta de definição sobre o que
fazer com a indústria na globalização. A China tem uma visão muito
clara: quer se transformar na fábrica
do mundo. A Índia tem visão distinta, mais centrada em software. Quer
ser o escritório do mundo. O México
(...), para o bem ou para o mal, quer
ser a maquiladora do mundo, o lugar
por onde se passa para entrar no
mercado norte-americano".
Bom, e o Brasil? "Ninguém sabe. É o
país mais rico do mundo em commodities. Por que não se transformar no
grande centro processador de matérias-primas? Certamente tem o capital, a capacidade empresarial, a
mão-de-obra e a tecnologia para isso", termina Palma.
O economista chileno é um defensor do que chama de reindustrialização. Cita Finlândia e Malásia como
exemplos de países que tinham base
industrial pequena ou incipiente e,
no entanto, se tornaram importantes
produtores de manufaturas.
Não sei, para ser franco, se se transformar no grande processador de
matérias-primas é o melhor que o
Brasil pode fazer. Mas está evidente
que não é a modorra atual que tirará
o país da mediocridade.
@ - crossi@uol.com.br
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