São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

De machos e idéias

SÃO PAULO - A revista "Indústria Brasileira", obviamente editada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), pescou, em seu número mais recente, um economista chileno para dizer coisas que vão além das platitudes que dominam o debate público no pobre país tropical.
É chileno, mas pode ler sem preconceito: ele, Gabriel Palma, fala inglês, até porque leciona em Cambridge (Reino Unido).
Para começar, Palma cunha uma deliciosa expressão para definir a política monetária tupiniquim: "machomonetarismo". Quer dizer: o Banco Central (com Gustavo Franco ou agora) usa juros obscenos não por necessidade, recomendação teórica ou coisa parecida, mas para mostrar ao mundo que é macho. Ridículo, mas verdadeiro.
Depois, Palma diz: "O que se vê no Brasil é falta de definição sobre o que fazer com a indústria na globalização. A China tem uma visão muito clara: quer se transformar na fábrica do mundo. A Índia tem visão distinta, mais centrada em software. Quer ser o escritório do mundo. O México (...), para o bem ou para o mal, quer ser a maquiladora do mundo, o lugar por onde se passa para entrar no mercado norte-americano".
Bom, e o Brasil? "Ninguém sabe. É o país mais rico do mundo em commodities. Por que não se transformar no grande centro processador de matérias-primas? Certamente tem o capital, a capacidade empresarial, a mão-de-obra e a tecnologia para isso", termina Palma.
O economista chileno é um defensor do que chama de reindustrialização. Cita Finlândia e Malásia como exemplos de países que tinham base industrial pequena ou incipiente e, no entanto, se tornaram importantes produtores de manufaturas.
Não sei, para ser franco, se se transformar no grande processador de matérias-primas é o melhor que o Brasil pode fazer. Mas está evidente que não é a modorra atual que tirará o país da mediocridade.

@ - crossi@uol.com.br


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