São Paulo, Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 1999
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DESEMPREGO ENTRE POBRES

Embora o desemprego tenha se generalizado no mundo atual, os países pobres tendem a sofrer mais.
Segundo pesquisa realizada pelo economista Márcio Pochman, da Unicamp, em 1979 o desemprego nos países do G-7 representava 30,1% do desemprego no mundo. Essa participação caiu para 22,1% em 1989 e, em 1998, chegou a 16,9%.
Vários fatores contribuem para esse aprofundamento relativamente maior do desemprego em países mais pobres. Há fatores de natureza demográfica. As taxas de natalidade caíram mais nos países mais ricos, enquanto nos mais atrasados o controle da natalidade em muitos casos é falho ou inexistente. O desemprego tende a ser maior em populações com taxas mais altas de crescimento.
Outro fator relevante é o desenvolvimento tecnológico desigual. Nos países mais ricos ocorreu uma verdadeira revolução tecnológica nos últimos 20 anos. O processo eliminou empregos, mas também criou oportunidades novas, em especial no setor de serviços e nas fronteiras da tecnologia da informação.
Os países menos desenvolvidos são importadores dessas tecnologias e sofrem com intensidade relativamente maior os efeitos da automação, ou seja, o lado negativo da revolução tecnológica.
Finalmente, é importante reconhecer que, apesar da onda generalizada de redução no tamanho do Estado, a velocidade e a intensidade desse processo foram maiores em grandes países em desenvolvimento. Do México ao Brasil, passando pela Rússia e pelo Leste Europeu, o desmonte de modelos estatistas e o fim do comunismo geraram contingentes crescentes de novos desempregados.
Essas assimetrias tendem a se agravar. Sociedades mais pobres, com desemprego crescente, tornam-se ainda mais pobres e, assim, geram menos investimentos e oportunidades de emprego. Desse ponto de vista, apesar de toda a globalização, sob o aspecto social o mundo parece recuar aos padrões do século 19.


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