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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Um quixote no PT
SÃO PAULO - Como não deu certo
a patética manobra para fazer de
Ciro Gomes o candidato ao governo
de São Paulo apoiado pelo PT, Lula
apontou o dedo para Aloizio Mercadante. Nunca o partido serviu de
modo tão escancarado aos caprichos de seu líder autocrático. A chapa está definida: Mercadante para o
governo, Marta para o Senado.
Obedientes a Lula, os demais petistas que sonhavam com o Bandeirantes já se curvaram. Todos, menos ele: Eduardo Suplicy. O senador, com mandato até 2014, insiste
em manter seu nome na disputa. O
lulismo transformou a "democracia
partidária" em conversa fiada, mas
Suplicy finge acreditar que ela tem
validade: recolhe assinaturas, invoca o estatuto, participa de plenárias.
Será, como tem sido, derrotado
pela máquina do partido. Mas seu
quixotismo não deixa de ser didático para todos. As restrições da cúpula petista a Suplicy têm muitas
vezes a mesma origem de seu prestígio para além do PT.
Em 2005, ele assinou o requerimento da CPI dos Correios, contrariando a decisão do partido de boicotá-la. Delúbio Soares, em represália, o retirou da chapa que concorria ao Diretório Nacional.
No ano passado, Suplicy apresentou o cartão vermelho a José Sarney na tribuna do Senado. Duas horas depois, encontrou o então presidente do PT, Ricardo Berzoini, que
lhe virou a cara, negando-se a cumprimentá-lo. Mais recentemente,
Suplicy disse ao chanceler Celso
Amorim que Lula deveria rever sua
posição e atuar publicamente pela
liberdade de expressão em Cuba.
São episódios emblemáticos, que
jogam luz sobre o lado sombrio do
PT. Entre os princípios e as conveniências, entre a democracia e a
corrupção dos amigos, o partido de
Lula fez suas opções.
Com sua fala vagarosa e exasperante, com seu ar naïf, para muitos
de falso tolo, Suplicy se tornou uma
figura meio folclórica. Há no PT até
quem o compare ao personagem
Forrest Gump. Soa quase como um
elogio num partido com tantos aspirantes à família Corleone.
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