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FERNANDO RODRIGUES
Uma lei fascista
BRASÍLIA - São tantos e tão abrangentes os aspectos deletérios da lei
eleitoral recém-aprovada pelo Congresso que alguns detalhes acabaram
ficando para trás no noticiário.
Um item perdido determina que,
nos programas de rádio e de TV dos
candidatos, "somente poderão participar o candidato e filiados ao seu
partido". Em resumo, acabou a liberdade de expressão para os que não
pertencerem a alguma agremiação
político-partidária.
A lei tem uma redação ambígua. E
se o candidato for do PT e disputar a
eleição coligado ao PC do B? A qual
partido deve estar filiado o cidadão
que desejar prestar apoio?
Também não é necessária muita
imaginação para prever o que acontecerá a respeito de pessoas mais simples: antes de entrar no estúdio para
gravar, deverão assinar uma ficha de
filiação partidária. Sim, pois a lei
aprovada não diz há quanto tempo é
necessário estar filiado para ter acesso à propaganda eleitoral.
Aí entra o caráter fascista do processo. Os partidos começarão a exigir
a filiação partidária dos pobres coitados que são arregimentados nas favelas para dizer como admiram o
"doutor candidato". O próximo passo será obrigar os eleitores a andar
com o crachá do partido ao qual pertencem para terem acesso a uma discussão política em mesa de bar.
Em todas as democracias estabelecidas, é comum grupos da sociedade
civil darem apoio público a determinados candidatos. Atores, advogados, engenheiros, líderes comunitários aparecem nas propagandas políticas dizendo por que são a favor desse ou daquele político. É bom e saudável que seja assim. O Brasil pretende acabar com essa tradição, pois
quer obrigar as pessoas a se filiarem
aos partidos antes de darem apoio.
Continua em vigor a regra: toda vez
que um deputado ou senador não
tem uma idéia, o Brasil melhora. Infelizmente, não foi o caso agora.
Quem sabe Lula tenha um acesso
de lucidez e vete na íntegra essa lei esdrúxula e antidemocrática.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
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