São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 2009

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Editoriais

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Maldição do partido único

A ÁFRICA do Sul, democracia mais pujante do continente, elege hoje seu terceiro presidente após o fim do apartheid. Tudo indica que o Congresso Nacional Africano, o partido de Nelson Mandela, manterá intacta a hegemonia que assegura desde o início do regime multirracial, em 1994.
Jacob Zuma, que foi companheiro de Mandela na prisão e chefiou o serviço de inteligência do CNA, será o provável vitorioso. No modelo sul-africano, o eleitor vota em listas fechadas, elaboradas pelos partidos, e assim define o Congresso, o qual por sua vez elege o presidente.
Apesar dos avanços econômicos e sociais ocorridos no governo do CNA, os efeitos colaterais de 15 anos de mando -período prestes a ser estendido por mais cinco- começam a ter peso importante na balança. O próprio Zuma, acusado de ter recebido propina sistematicamente, ficou livre dos processos numa manobra que abalou a credibilidade do Ministério Público sul-africano.
O episódio reforça a percepção de que o aparelhamento do Estado se espraia, num país conhecido por suas instituições relativamente fortes e autônomas. Outro passivo do CNA está na saúde pública. Durante anos seus líderes negaram o vínculo entre HIV e Aids, enquanto a epidemia se alastrava e reduzia a expectativa de vida do sul-africano -de 64 anos, em 1994, para 49, hoje.
A África do Sul, no entanto, é o único país a ostentar uma rede de proteção social no continente, por conta de programas deslanchados nos últimos 15 anos. Políticas assistenciais de transferência de dinheiro, semelhantes ao Bolsa Família, atingem um habitante em cada grupo de quatro. A economia, que se expandiu 4,7% ao ano, em média, na última meia década, também explica o forte apoio popular ao CNA.
Mas eis que surge, neste pleito, uma novidade interessante. Uma dissidência do partido de Mandela, chamada Congresso do Povo, começa a quebrar o monopólio do CNA como representante de um país com 79% de negros na população.
As pesquisas não conferem ao Cope, liderado pelo bispo metodista Mvune Dandala, mais de 15% das intenções de voto. Mas nasce, sem dúvida, uma força capaz de oxigenar a democracia da África do Sul -e, quem sabe, livrá-la no futuro da maldição do governo de partido único.


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