São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2011

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Impasse na Síria

O ditador sírio, Bashar Assad, pode ter deixado escapar a oportunidade de conduzir uma transição democrática no regime secular e nacionalista que seu pai, Hafez, implantou há quatro décadas.
Veio tarde o fim da Lei de Emergência, que restringia direitos de organização política e permitia julgamentos sumários de acusados de crimes contra a segurança do Estado. E veio acompanhado de mais repressão a protestos de opositores, iniciados há um mês.
Se a revogação da lei era de início a principal reivindicação dos manifestantes sírios, após o acúmulo de mortes (duas centenas, na estimativa de ativistas de direitos humanos) eles passaram a pedir a renúncia do próprio Assad.
Os protestos, que começaram em cidades periféricas, chegaram com força a Homs, terceira maior do país. Enquanto isso, a mescla de acenos e concessões com violência sugere haver divisões no governo e já é comparada à tática adotada pelos ditadores do Egito e da Tunísia, que acabaram caindo.
Como na Líbia, há pouco conhecimento sobre a formação e o programa da oposição síria, o que resulta em parte do fato de o regime ser mais fechado do que eram o egípcio ou o tunisiano. Assad, como é praxe na região, responsabiliza fundamentalistas e estrangeiros pelos protestos.
Especialistas reconhecem a presença pontual de radicais religiosos, e telegramas vazados pelo WikiLeaks indicaram que os EUA financiam opositores sírios no exílio. Mas esses grupos são tidos como minoritários entre os manifestantes, que se inspiram nos movimentos pró-democracia vizinhos.
A Síria tem apenas um quarto da população do Egito e não se destaca como produtora de petróleo. Encontra-se, porém, em posição estratégica no Oriente Médio. Tem influência no Líbano, que ocupou entre o fim dos anos 1970 e 2005 e ali apoia a milícia xiita Hizbollah. É a principal aliada do Irã, aproximou-se da Turquia e mantém com Israel uma guerra fria, por ora com possibilidade mínima de chegar a conflito aberto.
Sem dúvida o regime sírio tem muitos inimigos. Mas, sem uma transição negociada, não se descartam dois cenários sombrios.
De um lado, uma onda repressiva sem limites, com precedente no massacre de Hama, em 1982, quando ao menos 17 mil foram mortos por forças governistas durante uma revolta sunita, vertente do islã seguida por 70% dos sírios. De outro, uma guerra civil com base em linhas sectárias, opondo a minoria alauíta (um ramo do xiismo), representada pelo clã Assad, a outros confessionais.


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