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JOÃO SAYAD
Major Sertório com Vila Nova
NO SENTIDO leste-oeste, as
ruas de Washington têm
nomes de letras. No sentido
norte-sul, são numeradas. O Banco
Mundial está na 19 com a M. As
ruas formam um quadriculado cortado diagonalmente por avenidas
com nomes dos Estados: a Casa
Branca está na av. Pensilvania. Mas
o desenho cartesiano das ruas é
perturbado por vias expressas que
obedecem à lógica do excesso de
carros irracional e poluente.
Localizar-se em Washington,
com a expectativa de racionalidade
dos nomes das ruas, acaba-se tornando difícil. Algumas ruas se contorcem diante de praças e rotatórias apenas para manter a regra geral. A avenida Pensilvânia faz uma
pirueta para continuar com o mesmo nome num outro lugar.
Mais fácil se localizar na Paris
romântica, que pensou mais na beleza do que na razão. Ou no Rio,
marcado pela natureza, com mar e
montanha. Porque não há expectativa de racionalidade no desenho
das ruas dessas cidades.
Washington reflete o espírito liberal americano, que pretende difundir a "racionalidade" no mundo
inteiro. A razão transformará o
mundo num Estados Unidos imenso e racional. Teremos todos a
mesma ética. O Oriente Médio
adotará o regime democrático. E a
América Latina adotará práticas de
mercado. Como se todos nós, americanos, brasileiros e palestinos
fôssemos seres que, se iluminados
pela razão, faríamos as mesmas escolhas. Ganhar a Copa do Mundo?
Morrer pelo paraíso de leite e mel
prometido pelo Islã? Ou apenas ganhar dinheiro?
O espírito liberal americano é o
discurso do mundo inteiro. Na semana passada, o governo de São
Paulo foi criticado por ter negociado com os bandidos do PCC. Qual o
critério ético para escolher entre
justiça e paz? Justiça a qualquer
preço, como querem os terroristas? Ou paz a qualquer preço, como
decidiu Chamberlain ao entregar a
Tchecoslováquia ao nazismo?
Punição e vingança? A punição é
apenas um mal necessário para
evitar a privatização da vingança.
Não diminui a criminalidade.
A decisão foi negociar-paz agora, justiça depois. Está certo do
ponto de vista ético? E se houve negociação, deveríamos mentir? Qual
a escolha ética -mentir ou comprometer a imagem de implacabilidade da Justiça?
Vinte anos atrás, a criminalidade
não era problema grave. Há 20
anos o Brasil cresce devagar. A trégua com os bandidos é tão irracional ou racional quanto a política de
combater a inflação agora para
crescer depois.
Foi a única alternativa para podermos sair de casa para um cafezinho na esquina da Major Sertório
com a doutor Vila Nova e para uma
conversinha sem sentido.
João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.
jsayad@attglobal.net
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