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CARLOS HEITOR CONY
Sempre se sabe
RIO DE JANEIRO - No romance,
dois irmãos são diferenciados porque um é filho legítimo e o outro,
ilegítimo -num tempo em que a lei
civil fazia esse tipo de diferença. Suportam-se na medida do possível.
Já adultos, os pais mortos, têm
coragem de conversar sobre o assunto que os separa desde a infância. O irmão legítimo fica admirado
ao ver que o meio-irmão conhecia a
origem bastarda. Pergunta admirado: "Como é que você soube?". O
outro responde: "No fundo, sempre
se sabe".
Na vida real acontece mais ou
menos a mesma coisa. Cedo ou tarde, de forma completa ou não, por
meios legais ou violentos, ficamos
sabendo do que acontece em volta
da sociedade. Aparentemente, há a
versão explícita e negociada dos
atos e fatos que podem ser divulgados, comentados, até mesmo criticados, quando o regime é democrático, a imprensa é livre e os tribunais funcionam normalmente. A
maioria daquilo que realmente
acontece fica encapsulada pelas
conveniências do poder e pela sabedoria geral, que aconselha a não
meter a mão em cumbuca.
Apesar disso, o conflito de interesses periodicamente desponta e
tira do casulo um pouco da verdade,
ou pelo menos uma versão não-autorizada, levantando o espesso tapete que ocultou o lixo sempre suspeitado, mas pouquíssimas vezes
provado. Surge então um grande escândalo, cujas proporções variam
de acordo com a soma de escândalos menores.
Marx disse que ninguém melhor
do que Balzac estudou o dinheiro
como personagem da história. No
tempo do autor de "Cesar Birotteau", podia-se enriquecer de várias
maneiras, inclusive as legais. Hoje,
o caminho preferencial para a riqueza passa pelo Estado, nem sempre de forma legal. Podemos fechar
os olhos para isso, mas, no fundo,
sempre se sabe.
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