São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2008

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KENNETH MAXWELL

Bundas e peitos

DIZ-SE QUE OS homens brasileiros prestam mais atenção às bundas do que aos peitos. Não é este o caso aqui no Reino Unido. Os peitos vencem as bundas em todas as disputas. E peitos eram assunto em destaque na imprensa durante esta semana.
A Corte de Apelações invalidou a condenação de um homem gay que vinha filmando outros homens secretamente no vestiário de uma piscina. Os juízes declararam que contemplar peitos masculinos era legal, mas o mesmo não se aplicava aos seios femininos, nos termos da legislação de combate aos crimes sexuais adotada em 2003. Apenas o peito feminino, determinou o tribunal, pode ser considerado como uma "parte íntima". O juiz Hughes determinou que a "intenção do Parlamento era referente ao peito de uma mulher, e não ao peito masculino exposto".
Curiosamente, as colunas de obituários estavam ao mesmo tempo exibindo fotos de um dos mais famosos peitos masculinos da história do cinema, o de John Phillip Law, que morreu aos 70 anos em Los Angeles. Law é lembrado especialmente como o anjo cego Pygar, em "Barbarella", a obra-prima kitsch que Roger Vadim dirigiu em 1968. Dino de Laurentiis havia escalado Law, um belo californiano loiro e de físico imponente, como o anjo protetor, alado e seminu, da heroína intergaláctica e sexualmente insaciável interpretada por Jane Fonda.
Tudo isso se justapunha a colunas de fofocas nas quais muita gente batia no peito diante das espalhafatosas memórias de Cherie Blair, mulher do antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair. A sra. Blair é uma advogada poderosa e ambiciosa e, de modo bem parecido ao da senadora Hillary Clinton, subordinou suas ambições às de seu poderoso marido. Agora, chegou a sua vez de brilhar. Entre as revelações da sra. Blair: ela foi para a cama com Tony no primeiro encontro, ainda que estivesse saindo com dois outros homens à mesma época. O filho mais moço do casal foi concebido porque ela considerava que levar camisinhas ao palácio de Balmoral, uma das residências da rainha, na Escócia, não seria uma boa idéia, dada a possibilidade de que os criados abrissem suas malas e ficassem chocados.
E assim por diante. Essa imagem de "bater no peito" é, claro, uma invocação bíblica. Em Jeremias, 9:17, ela invoca mulheres que são pagas para expressar pesar.
Muito apropriado à situação atual da sra. Clinton. Mas, em Isaías, 32:12, "batei no peito" é pretendido como estímulo ao crescimento de vinhas frutíferas, o que parece mais apropriado à sra. Blair, caso suas memórias, como as da sra. Clinton, venham a se tornar um best-seller.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI


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