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MARINA SILVA
O que se espera do Brasil
NA SEMANA passada, em Oslo, na Noruega, tive a honra
de receber o prêmio Sofia e
participar da Conferência Internacional de Florestas Tropicais e Mudanças Climáticas, promovida pela
Rainforest Foundation.
Voltei ainda mais certa do papel
fundamental do Brasil nos esforços
mundiais para estabelecer um padrão de governança global que proteja as florestas, sua biodiversidade, suas populações tradicionais e,
ao mesmo tempo, reduza as emissões de dióxido de carbono geradas
pelo desmatamento.
O Fundo Amazônia é um bom
exemplo do que podemos fazer. Ele
é fruto do aumento da consciência
ambiental no país, ao longo das últimas décadas, impulsionada pelos
movimentos socioambientais, com
importantes ganhos legislativos,
acúmulo de capacidade técnica e
institucional e resultados objetivos
no controle do desmatamento.
Quando apresentou a proposta
do fundo em 2007, na Conferência
de Bali, na Indonésia, o Brasil contou com apoio imediato e entusiástico do governo da Noruega, por
meio de seu ministro do Meio Ambiente, Erik Solheim. A partir da
concepção do Fundo Amazônia, a
Noruega criou um programa mundial de proteção das florestas tropicais, destinando-lhe 2,7 bilhões de
dólares anuais até 2012.
Nesses dias em Oslo, ouvi apelos
do ministro Solheim, de ambientalistas noruegueses, de representantes de comunidades extrativistas e indígenas de dezenas de países para que a implementação do
Fundo Amazônia seja bem feita.
Pois ele será modelo para programas avançados na luta contra o
desmatamento e as emissões de
CO2 na maioria dos países que
guardam importantes extensões
de florestas tropicais.
Essa expectativa não combina
com os movimentos de desmonte
da proteção ambiental a que estamos assistindo no Brasil. Está em
jogo nosso histórico de respostas
tecnológicas, construção de base
legal, experiência institucional e
de governança constituído ao longo das últimas décadas com ousadia e criatividade, nem como participação social.
A Noruega está hoje na liderança
dos esforços globais para proteger
as florestas tropicais e a vocação
brasileira é, sem dúvida, compartilhar essa liderança. O Brasil não
pode ficar apenas na posição de
quem recebe ajuda. Pelos nossos
motivos específicos, que dizem
respeito sobretudo a um desenvolvimento para a Amazônia compatível com as necessidades de sua
população e com a proteção da floresta. E pelos motivos de nossa
responsabilidade com o planeta,
que envolve a urgência de reduzir
drasticamente as toneladas de carbono que já impactam o presente e
ameaçam o futuro.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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