São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O descuido argentino

A CRISE DE energia na Argentina tomou grandes proporções. O país precisa diariamente de 18 mil megawatts de energia elétrica e dispõe de apenas 16 mil megawatts. Faltam 2.000 megawatts todos os dias. No caso do gás, o déficit é de 25 milhões de metros cúbicos diariamente. As conseqüências já apareceram.
Cerca de 300 fábricas pararam totalmente suas atividades e 4.000 estão em férias coletivas ou com suas atividades reduzidas. Bariloche, uma das mais importantes fontes de renda de turismo, tem sofrido apagões sucessivos. Na semana passada, a cidade chegou a ficar 15 horas sem energia elétrica. A Patagônia turística teme o mesmo destino. Tudo isso compromete severamente a produção, o emprego e as finanças do país.
Em meio a esse inegável caos, as autoridades do governo tentam tapar o sol com a peneira, afirmando que o problema é passageiro, sendo resultado da combinação de um excesso de consumo devido a um frio severo deste ano e à escassez de chuvas para alimentar os reservatórios das poucas usinas hidrelétricas que o país possui.
O que não pode ser escondido é que, desde 2001, os técnicos alertaram o governo sobre a necessidade imperiosa de a Argentina ampliar suas fontes de energia para sustentar um crescimento de 7% ou 8%. O país deveria ter investido cerca de US$ 3,5 bilhões anualmente para garantir eletricidade, gás e diesel.
Mas quase nada foi feito. O gás, que responde por quase 50% da matriz energética, escasseou. A Argentina suspendeu o fornecimento de gás ao Chile, passou a receber um socorro do Brasil e, mesmo assim, o racionamento foi instalado.
Segundo notícias da imprensa, o presidente Néstor Kirchner considera que a falta de energia "é um bom problema" porque é resultado do crescimento recorde da economia argentina, assim como já se disse no Brasil que o apagão aéreo é o preço do nosso "sucesso econômico".
Energia é o coração do desenvolvimento. Não se pode brincar nesse campo e muito menos deixar de tomar as medidas no tempo apropriado. A construção de usinas e de outras fontes de energia é sempre demorada. Isso vem sendo falado e repetido no Brasil à exaustão. A crise argentina é o exemplo concreto do resultado da negligência em matéria energética.
Que o caso dos nossos vizinhos nos sirva de lição. O Brasil tem um potencial energético generoso, em especial, o hidroelétrico. Se o suprimento está em risco é porque a insensibilidade é monumental.
Um alerta para nós, brasileiros!

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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