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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O descuido argentino
A CRISE DE energia na Argentina tomou grandes proporções. O país precisa diariamente de 18 mil megawatts de energia elétrica e dispõe de apenas
16 mil megawatts. Faltam 2.000
megawatts todos os dias. No caso
do gás, o déficit é de 25 milhões de
metros cúbicos diariamente.
As conseqüências já apareceram.
Cerca de 300 fábricas pararam totalmente suas atividades e 4.000
estão em férias coletivas ou com
suas atividades reduzidas. Bariloche, uma das mais importantes
fontes de renda de turismo, tem sofrido apagões sucessivos. Na semana passada, a cidade chegou a ficar
15 horas sem energia elétrica. A Patagônia turística teme o mesmo
destino. Tudo isso compromete severamente a produção, o emprego
e as finanças do país.
Em meio a esse inegável caos, as
autoridades do governo tentam tapar o sol com a peneira, afirmando
que o problema é passageiro, sendo
resultado da combinação de um
excesso de consumo devido a um
frio severo deste ano e à escassez
de chuvas para alimentar os reservatórios das poucas usinas hidrelétricas que o país possui.
O que não pode ser escondido é
que, desde 2001, os técnicos alertaram o governo sobre a necessidade
imperiosa de a Argentina ampliar
suas fontes de energia para sustentar um crescimento de 7% ou 8%. O
país deveria ter investido cerca de
US$ 3,5 bilhões anualmente para
garantir eletricidade, gás e diesel.
Mas quase nada foi feito. O gás, que
responde por quase 50% da matriz
energética, escasseou. A Argentina
suspendeu o fornecimento de gás
ao Chile, passou a receber um socorro do Brasil e, mesmo assim, o
racionamento foi instalado.
Segundo notícias da imprensa, o
presidente Néstor Kirchner considera que a falta de energia "é um
bom problema" porque é resultado
do crescimento recorde da economia argentina, assim como já se
disse no Brasil que o apagão aéreo é
o preço do nosso "sucesso econômico".
Energia é o coração do desenvolvimento. Não se pode brincar nesse campo e muito menos deixar de
tomar as medidas no tempo apropriado. A construção de usinas e de
outras fontes de energia é sempre
demorada. Isso vem sendo falado e
repetido no Brasil à exaustão. A crise argentina é o exemplo concreto
do resultado da negligência em matéria energética.
Que o caso dos nossos vizinhos
nos sirva de lição. O Brasil tem um
potencial energético generoso, em
especial, o hidroelétrico. Se o suprimento está em risco é porque a
insensibilidade é monumental.
Um alerta para nós, brasileiros!
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.
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