|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Cassino volta, sob velha direção
SÃO PAULO - Informa o "Financial Times" de ontem que os "hedge
funds" tiveram enorme aumento
em investimentos, no segundo trimestre do ano, dado que "os investidores correram para capitalizar o
ressurgimento dessa indústria".
Na verdade, "hedge funds" não
são propriamente uma indústria,
mas um baita cassino em que investidores apostam em diferentes tipos de ativos, para se protegerem
(fazer "hedge") de investimentos
em outros ativos, em uma bola de
neve que é considerada, unanimemente, uma das grandes culpadas
pela crise.
Sempre de acordo com o "FT",
mais de US$ 142,5 bilhões foram
alocadas para tais fundos, nos três
meses encerrados em junho, "um
dos maiores fluxos de dinheiro de
clientes até hoje".
Some-se a essa informação o lucro fabuloso de alguns dos bancos
que o governo norte-americano teve que socorrer para evitar que quebrassem e tem-se a volta do cassino
financeiro. Pior: sob a velha direção. Como se sabe, o governo pôs
uma formidável pilha de dinheiro,
mas não assumiu o controle dos negócios -ou seja, estatizou o risco e
manteve os lucros privados.
Desse jeito, até eu daria certo como capitalista.
Bem que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva tem insistido em que
há o risco de que todo mundo ache
que a crise se resolveu por si só e
deixe tudo como está. Parece ser o
que está ocorrendo: os projetos de
aperto na regulação/supervisão do
sistema financeiro foram até anunciados, pelos Estados Unidos e pela
União Europeia, mas não entraram
em vigor.
O G20, que fez todas as recomendações devidas para corrigir a farra
financeira, só volta a se reunir em
setembro. Até lá, é bem capaz de aumentarem os sinais de que o pior da
crise passou e, por extensão, cresça
o coro do deixa-como-está, temido
por Lula, no que seria a vitória definitiva do cassino.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Gastos sem critério
Próximo Texto: Brasília - Valdo Cruz: Criador e criatura Índice
|