São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2011 |
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RUY CASTRO Agora é cinza RIO DE JANEIRO - Outro dia, com a queda de mais um ministro no governo Dilma -o quarto em menos de três meses-, a Folha publicou a tradicional foto do ministério original, batida no começo do ano. Lá estão os 38 titulares, airosos e pimpões em seus ternos azuis, faces rosadas e vestidos vermelhos -exceto os ministros caídos, rebaixados a um tom cinza que os tornou parecidos com Gasparzinho, o "fantasma camarada", antigo herói de desenho animado. Ou com os réprobos do planeta Krypton, que eram despachados para uma "zona fantasma" e, no processo, perdiam substância e cor. O cinza da foto simboliza que a saída do governo lhes drenou o sangue que permitia enxergá-los em quatro cores. Não que essa súbita monocromia lhes seja inconveniente -ao contrário. Ex-ministros costumam conservar os bons contatos que mantinham quando no governo e, fora dele, levam a vantagem de não ser tão visíveis. Os 38 ministros juntos, mesmo com os quatro esfarinhados, compõem uma imagem impressionante. É muita gente -nem as superpotências se permitem tantos pingentes de luxo em torno do presidente. E ainda que Dilma aproveitasse para fazer algumas recomposições e extinguisse nove ou dez ministérios, continuaria a ser uma multidão. Mas, naturalmente, os excluídos foram apenas substituídos, e ministério que segue. A prosseguir a faxina, em breve novos ministros serão evaporados, e a foto terá de ser continuamente retocada para comportar mais gente em cinza. É possível que, para muitos ali, que não têm nada a temer, esse risco seja ínfimo ou nulo. Mas haverá aqueles que, sabendo de si mais do que os outros, ao se verem hoje na foto, já conseguem se enxergar em grisê. A foto lembra também uma galeria de tiro ao alvo. O leitor é livre para aplicar guache sobre os, a seu ver, próximos candidatos ao abate. Texto Anterior: Brasília - Melchiades Filho: Ela & Ele Próximo Texto: Aécio Neves: A arte do possível Índice | Comunicar Erros |
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