São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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HAVERÁ SEGUNDO TURNO?

Os resultados da pesquisa Datafolha que este jornal publica hoje inaugurarão uma semana em que a dúvida enunciada acima ganhará total proeminência na discussão de analistas políticos, de agentes do mercado financeiro e da opinião pública, de maneira geral.
Prosseguiu o movimento de ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva que já fora constatado na pesquisa passada, realizada no dia 9 de setembro. O petista atinge 44% das intenções de voto, contra os 40% que detinha na pesquisa anterior. Como os seus adversários somam 48% da preferência, configura-se uma situação, no limite, de empate técnico para definir a chance de Lula tornar-se presidente sem necessidade de segundo turno. Na sondagem anterior, a distância entre o petista e o conjunto dos demais presidenciáveis era de 11 pontos percentuais. Caiu, pois, sete pontos.
A duas semanas do dia do pleito, não se pode dizer que a tendência de subida de Lula seja um fato inexorável dessa reta final. Ainda haverá eventos importantes, até lá, que poderão alterar a decisão de voto do eleitorado. A propaganda gratuita no rádio e na TV segue até o dia 4; na véspera, 3 de outubro, está programado um debate entre presidenciáveis na TV Globo. O tempo de propaganda gratuita da campanha de Lula é muito menor do que o do conjunto de seus adversários, todos eles interessados em evitar uma vitória do PT já em 6 de outubro.
A questão que fica, porém, para os adversários do petista, é a de qual estratégia adotar para frear a sua ascensão. Há fortes indícios de que a tática de atacá-lo não se revelou eficaz, pelo menos até agora. O candidato que mais se valeu desse estratagema, o governista José Serra, além de ele próprio não ter crescido e de não ter evitado que Lula subisse, viu a sua taxa de rejeição aumentar de 31% para 34%. José Serra tornou-se, entre os quatro principais concorrentes, o mais rejeitado pelos eleitores -rejeição que fica mais alta (43%) na faixa de maior renda.
Já uma discussão que volta, a partir de agora, é sobre, em havendo um segundo turno, qual será o adversário de Lula. A campanha de José Serra logrou desbancar Ciro Gomes do alto patamar em que se encontrava e atingir a vice-liderança. Mas não conseguiu consolidar uma distância confortável sobre o terceiro colocado. Dos votos que Ciro perdeu, apenas parte migrou para o governista. O beneficiado desse fenômeno parece ser Anthony Garotinho, que, com a sua oscilação para cima (de 14% para 15%) e com a oscilação para baixo de Serra (de 21% para 19%), aparece em empate técnico com o tucano.
Tudo somado, esta pesquisa do Datafolha parece revelar que se alastra na população um sentimento de oposição ao governo de Fernando Henrique Cardoso e, por consequência, ao candidato imediatamente identificado com os oito anos de sua gestão. O desejo de mudança pode ser o elemento a conferir uma propulsão extra às intenções de voto em Lula e, mais discretamente, em Garotinho. Também pode ser o fator que está impedindo Serra de romper a barreira dos 20%. As próximas duas semanas, que prometem ser de intensíssima batalha política, elucidarão de vez essas questões.


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