São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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PAINEL DO LEITOR


Banco Econômico
"A edição de 19/9 da Folha traz, em sua página B2 (Dinheiro), reportagem da Agência Folha em Salvador sob o título "Calmon de Sá sofre nova condenação" -com duração de "5 anos e oito meses em regime aberto". Essa notícia reproduz edição do jornal "A Tarde" que circulou no dia anterior e que, infelizmente, distorce fatos, procurando, por ignorância, má-fé ou displicência, apresentar-me sob luz negativa. Durante os 34 anos em que dirigi os destinos do Banco Econômico, orientei-o para investimentos estratégicos na Bahia e no Nordeste, principalmente, sem negar apoio creditício a empresas no restante do país. Depois de 11 de agosto de 1995, não esmoreci na busca de uma solução que permita aos legítimos credores de acionistas minoritários o recebimento de seus haveres. Por isso, podem imaginar minha angústia e mágoa e a dor de minha família e a dos meus amigos com as condenações que a Justiça de 1ª Instância me está impondo. No cerne dessa situação dolorosa, consola-me verificar que o magistrado, nas suas três decisões, tem asseverado: "O fato de não haver prejuízo para o sistema financeiro, diante da liquidação das operações, tem consequências na apenação (consequências do crime do art. 59 do CP), por se tratar de crime formal. Não se exige, portanto, a inadimplência para se completar o iter criminis, como ressaltou o Ministério Público". Prossegue a sentença: "Em seguida, deve-se observar os antecedentes. O sr. Ângelo Calmon de Sá possui antecedentes relacionados com o processo interventivo do Banco Econômico. Mas, em toda sua trajetória de vida, portou-se maneira ilibada, revelando uma excelente conduta social, com grandes serviços prestados à nação na qualidade de presidente do Banco do Brasil, ministro de Estado e junto a instituições de caridade renomadas nesta cidade". O magistrado declara: "As circunstâncias do crime são as já esclarecidas ao longo desta sentença e as consequências não foram graves, posto que houve a liquidação das export notes sem prejuízos para eventuais investidores e para o banco em geral, e, ao que parece, as operações descritas na denúncia não se relacionam diretamente com a crise de liquidez que assolou a instituição meses mais tarde". Embora as sentenças ressaltem que os crimes são formais, não tendo acarretado prejuízo ao banco, aos credores e ao sistema financeiro, e que as penas foram transformadas em prestações pecuniárias a instituição de caridade e em serviços comunitários, não me conformo com o desfecho do processo em primeiro grau, tendo os advogados que patrocinam a defesa criminal da maioria dos administradores do Econômico -drs. Thomaz Bacellar, Márcio Tomaz Bastos, Sonia Rao e Manoel Pinto- recorrido para o TRF e não tendo o dr. Rivaldo Guimarães apresentado nenhuma peça processual ou recursal, porque aquele amigo de longa data não é advogado, mas, sim, engenheiro há mais de 50 anos. Menciono esse fato, que não teria importância em si se fosse isolado. Ele adquire relevância quando decorrente de negligência inadmissível num veículo com a responsabilidade social de ser um dos maiores e influentes jornais do país. Ao reproduzir, sem maiores indagações, a notícia de "A Tarde", a Folha deu aos leitores a impressão de que as sentenças tinham sido prolatadas recentemente, quando duas foram publicadas em 2001 e uma em 12 de agosto deste ano. Esse jornal copia, sem verificar, a reportagem de seu congênere baiano, ocultando o fato de que as sentenças salientaram a inexistência de qualquer prejuízo e anotaram a conduta ilibada e comprometida com a sorte dos necessitados dos administradores do Econômico. Assim, aguardo que esse jornal esclareça os seus leitores sobre o reconhecimento de não ter havido nenhum prejuízo causado pelas operações e sobre a pena ser de prestações de serviços e pecuniária diante da ausência de danos e dos antecedentes pessoais dos administradores, que levarão ao Tribunal de Recursos a sua busca por justiça."
Ângelo Calmon de Sá (Salvador, BA)

Compostura
"Li, com espanto, no "Painel do Leitor" de 20/9, carta de professor da Unicamp comunicando-nos que o jornalista Clóvis Rossi, por tratar certos cidadãos por "perfeitos idiotas neoliberais", está perdendo a compostura. É estranho que, depois de vermos por todos esses anos o exmo. sr. presidente da República usar e abusar de seu posto para "xingar pessoas de pontos de vista diferentes em vez de rebater as suas teses", alguém ainda possa externar indignação com um estilo de argumentação tornado oficial por tal exemplo e considerá-lo uma falta de compostura."
Claudio Zamitti Mammana, professor livre-docente do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (São paulo, SP)

Telepatriotismo
"É lamentável que um evento esportivo tão importante, acontecendo no Brasil (Rio de Janeiro), seja transmitido apenas por uma TV paga, deixando milhões de brasileiros impossibilitados de torcer pelo Brasil (por Guga, por Meligeni e por outros). Onde está o patriotismo?"
Radamés Sangiorgi (São Paulo, SP)

Plebiscito da Alca
"Senti-me totalmente ofendida com a carta do sr. Everton Jobim ("Painel do Leitor", "Alca", 20/9). Fui uma entre as 10 milhões de pessoas que votaram contra a Alca. É incrível a maneira como o povo brasileiro é subestimado. Estou no último ano de faculdade, falo três línguas e, no próximo ano, vou prestar mestrado. A maioria das pessoas que eu vi votando possuem inúmeros títulos. Ou seja, a carta do leitor Jobim não passa de uma opinião preconceituosa sobre o seu próprio povo. Talvez se a votação tivesse sido organizada por uma multinacional ou por algum estrangeiro qualquer ele e muitos outros dariam mais crédito a ela. É esse um dos grandes problemas brasileiros." Gracielle Ferreira Leite (Campinas, SP)

Agronômico
"Quando, em 20 de junho de 1887, o imperador Pedro 2º criou a Estação Agronômica de Campinas, erigia-se um marco na agricultura nacional. A vinda do cientista austríaco Franz Daffert, no início da implantação da Estaçã, conferiu à nova instituição o reconhecimento de se tornar um capacitado centro de pesquisas, procurando soluções para os problemas que surgissem na exploração agrícola. Durante a década de 1940, quando surgiu a moléstia denominada "tristeza da laranja", provocada por vírus e que arrasou os pomares cítricos paulistas e de outras regiões do país, o já Instituto Agronômico, com a colaboração do Instituto Biológico, conseguiu desenvolver clones nucleares, o que resultou no ressurgimento dos pomares cítricos e fez o Brasil se tornar o maior produtor mundial. Mas modificações estruturais e a perda de pesquisadores e de pessoal de apoio têm contribuído para reduzir o potencial de pesquisa da instituição, tirando-lhe a sua tradicional identidade e transformando-a em apenas mais uma unidade da Secretaria da Agricultura."
Cyro Gonçalves Teixeira, ex-pesquisador do Instituto Agronômico (Poços de Caldas, MG)


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