São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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DEBATE NECESSÁRIO

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ONU, cujo tema central foi a necessidade global de ajudar os países menos desenvolvidos, não apresentou novidades, já que ele fizera intervenção similar no Fórum Econômico Mundial de 2003. Mas a fala teve pontos positivos, embora de difícil aplicação.
A transposição da principal iniciativa de marketing doméstica de Lula, o combate à fome, para o âmbito internacional -propondo a criação de uma taxa global para combater o problema- é louvável, visto que o tema não pode desaparecer da agenda. Vale lembrar que a ONU é o maior fórum mundial e que sua Assembléia Geral dá voz a todos os seus 191 países.
Mesmo para o bom funcionamento dos mercados internacionais, vistos por muitos como responsáveis pelo aumento da pobreza em inúmeras regiões menos desenvolvidas do planeta, é vital que as enormes desigualdades entre o abastado Norte e o necessitado Sul sejam atenuadas.
Jacques Chirac, presidente da França, aderiu à idéia e defendeu, na própria Assembléia Geral da ONU, a criação de uma taxa para "abrandar os efeitos nefastos da globalização" e a pobreza, da qual a fome é um dos sintomas mais cruéis. Ricardo Lagos, presidente do Chile, também parece disposto a "promover uma maior cooperação" nessa área. Cabe a Lula, contudo, atrair mais adeptos para sua causa.
O problema do imposto global, conhecido como "taxa Tobin" pelos iniciados no assunto, é que, para ter chance de sucesso, ele precisaria ser aceito por todos os principais atores econômicos da cena internacional. Ou seja, a participação de pesos pesados, como EUA, China, Japão e União Européia, seria indispensável.
Sem isso, em um ambiente acirrado como o da economia mundial, os países que não aderissem à medida teriam uma clara vantagem competitiva, o que, na prática, tornaria inviável a própria existência da taxa.
Por ora, a maior potência global, os EUA, é totalmente contrária ao imposto contra a fome. Assim, a iniciativa de Lula de não deixar que o debate caia em esquecimento é laudável, porém a aplicação internacional de sua iniciativa ainda parece distante.


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