São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Asas cortadas

SÃO PAULO - Com contornos de novela mexicana e ingredientes de briga de rua, a disputa entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab deu sinais de que saiu de controle e desandou de vez nos últimos dias, a menos de duas semanas do primeiro turno, quando um dos dois será excluído do jogo por obra do rival.
Crônica anunciada, se dirá, com razão. Mas cujo enredo, deve-se acrescentar, vai se revelando mais envenenado -degradante e degradado- do que previam no início da campanha mesmo os que já contabilizavam o desgaste de um enfrentamento que se mostrou inevitável.
Fica a sensação de que a feição raivosa assumida pelo racha demo-tucano (ou tucano-tucano, para ser exato) está a ponto de inviabilizar (ou já o fez) qualquer possibilidade de envolvimento real do perdedor contra o PT no segundo turno.
Alckmin deve ter alguma noção de que, derrotado agora por Kassab, não lhe sobrará muita opção além de abrir uma clínica de acupuntura em Pindamonhangaba.
E Serra sabe que um eventual fiasco de seu afilhado em prol do tucano representará um obstáculo a mais, entre tantos outros, a seu projeto de suceder Lula em 2010. O governador se vê entre a alternativa de esmagar Alckmin ou, na prática, ficar fora da disputa pela maior capital do país no seu próprio Estado.
Enquanto isso, Aécio amarrou o PT a si na capital mineira e deve eleger já no primeiro turno um candidato de consenso, Marcio Lacerda, coelho tirado da cartola do PSB que tem como padrinho e avalista ninguém menos que Ciro Gomes.
É ainda uma incógnita se essa "concertação" à mineira terá condições de voar além das montanhas das Gerais, apresentando-se como opção viável de poder para o pós-Lula, mas é certo que Aécio sabe alimentar sua ave de rapina na relação de ambígua cordialidade que mantém com o presidente.
E nem se falou aqui de Dilma, a cada dia que passa mais articulada com o grande capital, pronta para roubar para si a bandeira de candidata "da produção". Pois é.


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