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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Asas cortadas
SÃO PAULO - Com contornos de
novela mexicana e ingredientes de
briga de rua, a disputa entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab deu
sinais de que saiu de controle e desandou de vez nos últimos dias, a
menos de duas semanas do primeiro turno, quando um dos dois será
excluído do jogo por obra do rival.
Crônica anunciada, se dirá, com
razão. Mas cujo enredo, deve-se
acrescentar, vai se revelando mais
envenenado -degradante e degradado- do que previam no início da
campanha mesmo os que já contabilizavam o desgaste de um enfrentamento que se mostrou inevitável.
Fica a sensação de que a feição
raivosa assumida pelo racha demo-tucano (ou tucano-tucano, para ser
exato) está a ponto de inviabilizar
(ou já o fez) qualquer possibilidade
de envolvimento real do perdedor
contra o PT no segundo turno.
Alckmin deve ter alguma noção
de que, derrotado agora por Kassab,
não lhe sobrará muita opção além
de abrir uma clínica de acupuntura
em Pindamonhangaba.
E Serra sabe que um eventual
fiasco de seu afilhado em prol do tucano representará um obstáculo a
mais, entre tantos outros, a seu projeto de suceder Lula em 2010. O governador se vê entre a alternativa
de esmagar Alckmin ou, na prática,
ficar fora da disputa pela maior capital do país no seu próprio Estado.
Enquanto isso, Aécio amarrou o
PT a si na capital mineira e deve eleger já no primeiro turno um candidato de consenso, Marcio Lacerda,
coelho tirado da cartola do PSB que
tem como padrinho e avalista ninguém menos que Ciro Gomes.
É ainda uma incógnita se essa
"concertação" à mineira terá condições de voar além das montanhas
das Gerais, apresentando-se como
opção viável de poder para o pós-Lula, mas é certo que Aécio sabe alimentar sua ave de rapina na relação
de ambígua cordialidade que mantém com o presidente.
E nem se falou aqui de Dilma, a
cada dia que passa mais articulada
com o grande capital, pronta para
roubar para si a bandeira de candidata "da produção". Pois é.
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