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FERNANDO DE BARROS E SILVA
A boa palavra de FHC
SÃO PAULO - Se o velho Descartes
ressuscitasse por esses dias no Brasil, dificilmente ousaria repetir que
o "bom senso é a coisa mais bem
distribuída do mundo". Temos visto, neste período eleitoral, uma legião crescente de insensatos.
Destoa por isso, num ambiente
contaminado por desinteligências,
a entrevista que Fernando Henrique Cardoso concedeu ao jornal "O
Estado de S. Paulo" no domingo.
Ao falar de Lula, o ex-presidente
reconhece que o colega (e adversário) "atuou bem diante da crise financeira mundial em 2008 e 2009".
A seguir, não dá espaço à conversa
fiada (hoje tão disseminada) de que
Lula põe a democracia em risco:
"Não acho que o presidente Lula
tenha uma estratégia nessa direção. (...) Não sei qual a razão, mas o
Lula acertou ao não engordar o debate sobre o terceiro mandato. Não
sei está ou não arrependido, mas o
certo é que ele não engordou".
Esse reconhecimento vem acompanhado por críticas igualmente
pertinentes: "Uma das coisas que
mais me surpreendeu na trajetória
política de Lula foi a absorção por
ele do que há de pior na cultura do
conservadorismo, do comportamento tradicional. (...) O PT quando
foi criado se opunha ao corporativismo herdado do fascismo e de Getúlio Vargas. No poder, vemos que
ele ampliou esse corporativismo".
Para FHC, Lula seria "capaz de
deixar uma herança política democrática (...), mas está a todo instante
desprezando o componente democrático para ficar na posição de caudilho". Um exemplo trivial: "Não se
pode, por exemplo, ver o presidente, todos os dias, jogar o seu peso
político na campanha eleitoral".
Não deixa de ser curioso que FHC
faça essa análise de Lula, com elogios no atacado e críticas no varejo,
num momento como esse, que pediria uma intervenção -digamos
assim- talvez menos inteligente.
Mas se FHC está tão à vontade é
também porque o PSDB dispensou
os seus préstimos. É até irônico: o
partido dos sabidos não sabe o que
fazer com sua figura mais sábia.
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