São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2011

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A estreia de Dilma

Discurso da presidente na ONU reafirma posições da diplomacia brasileira, mas reflete mudança sutil diante de um novo cenário global

Ao debutar na tribuna da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, a presidente Dilma Rousseff reiterou a correção de rumos de aspectos da política externa brasileira que vem patrocinando desde que assumiu.
Constaram de seu discurso, como não poderia deixar de ser, as posições mais sedimentadas da diplomacia nacional. Expressou o anseio por um assento permanente no Conselho de Segurança (CS) -o órgão executivo máximo da ONU- e criticou intervenções unilaterais em países soberanos.
Tocou também em temas atuais, da crise econômica nos países centrais às revoltas no mundo árabe.
Manifestações de chefes de Estado em foros solenes, como a abertura do encontro anual da ONU, são em larga medida estruturadas por diplomatas. Os líderes, contudo, reforçam cada um o seu estilo. A política externa da gestão Rousseff, no cotejo com a de Lula, é mais serena e menos preocupada com questões geopolíticas distantes dos interesses brasileiros.
A presidente defendeu as posições do Brasil, mas sem abrir contenciosos desnecessários ou fazer provocações inúteis. Ao mesmo tempo, mostra-se menos disposta a transigir com violações de direitos humanos em nome de alianças políticas controversas.
A defesa da criação de um Estado palestino -que será corretamente apoiada pelo Brasil, atualmente membro temporário do CS-, sem descuidar dos "legítimos anseios" de Israel por segurança, é um bom exemplo de manifestação ponderada.
Um dia antes, em encontro com Barack Obama, Dilma Rousseff já havia elogiado "a posição vigilante da imprensa brasileira, não submetida a qualquer constrangimento governamental". A frase, que deveria soar corriqueira, contrasta com mais uma declaração infeliz de seu antecessor -segundo Lula, políticos precisam ter "casco duro" para resistir às acusações de corrupção.
A correção de rota na política externa, porém, não se explica apenas pelo estilo da presidente. Esse gesto responde, de certo modo, ao fato geopolítico mais importante do século 21: a ascensão da China, secundada, muito de longe, por países de grande peso populacional como Índia e o próprio Brasil.
Nesse contexto, seria um equívoco manter-se aferrado a pressupostos ultrapassados-como o que preconiza as alianças entre países periféricos, a China entre eles, a fim de limitar a influência dos EUA. Eis que, e não por acaso, o governo Rousseff acaba de erguer barreiras protecionistas contra a indústria automobilística chinesa -e a favor de montadoras norte-americanas instaladas no Brasil.
Sinal dos tempos...



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