São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

Palavras, palavras, palavras

RIO DE JANEIRO - Houve época em que me espantava com a história da humanidade, cheia de sangue, guerras por causa de um deus ou de uma mulher, como a de Troia.
Estou mais resignado e jogo a culpa de tudo na incapacidade humana de entender justamente aquilo que foi criado para o entendimento, a palavra. Por sinal, o único animal que dispõe desta faculdade é o homem.
Para não ir muito longe, em busca de razões históricas ou científicas, fico em dois exemplos prosaicos, além daquele a que me referi em crônica anterior, o de Gulliver, sobre a guerra de 800 anos entre anões que cortavam os ovos de maneiras diferentes, uns pela parte de cima, outros pela parte de baixo, quando a lei estabelecia que os ovos deviam ser cortados pelo lado certo.
Os livros fundamentais da civilização, a Bíblia e o Alcorão, estão cheios de palavras e conceitos contraditórios que dependem da interpretação circunstancial de quem os lê. No primeiro caso, temos as afirmações categóricas de Cristo, que disse textualmente "Eu vim trazer o fogo", e mais tarde, generosamente, garantiu a todos: "Eu vos dou a minha paz".
No Alcorão, fiquei sabendo por entendidos que o livro ditado por Alá a Maomé condena veementemente o suicídio, mas em outros versículos exalta aqueles que se matam pela causa do mesmo Alá, prometendo o paraíso e o uso de não sei quantas virgens, embora alguns comentaristas discordem: não são virgens, são cachos de uva.
Contam que na Revolução Cubana, tomando o poder, Fidel Castro perguntou a seu Estado-Maior se havia algum economista entre eles. Che Guevara apresentou-se.
Espantado, Fidel comentou: "Eu sabia que você era médico, mas não economista!". Guevara explicou-se: "Desculpe, eu entendi que você precisava de um comunista".



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