São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENDÊNCIAS/DEBATES

Em defesa do Rio Grande e do Brasil

TARSO GENRO

Ao longo dos últimos três anos e dez meses, o Partido dos Trabalhadores e seus aliados da Frente Popular governaram o Rio Grande do Sul em condições extremamente adversas. Remamos contra a maré do modelo neoliberal, que sucateava a estrutura estatal do país, promovendo as privatizações financiadas pelo próprio poder público.
Foi a mais incrível dilapidação de patrimônio que a nação vivenciou, sem nenhum efeito positivo para a redução da dívida pública.
Nosso primeiro mandato no Rio Grande conseguiu feitos extraordinários, que a seguir apenas exemplificamos: crescimento econômico de 11% em três anos, contra o crescimento de 0,8% em quatro anos do governo do PMDB, no mandato anterior; instalação do Orçamento Participativo no Estado, cujas decisões envolveram, ao longo do mandato, mais de 1,2 milhão de cidadãos dos mais distantes rincões do Estado; aumento de recursos para a saúde pública, em relação ao governo anterior, de 67% (valor real, a preços de setembro de 2002); contratação de 26 mil professores para atendimento da rede pública de ensino, que se encontrava sucateada; manutenção do Banrisul público e eficiente, que passou a financiar fortemente a agricultura; crescimento da agropecuária em 24%, cinco vezes mais do que o conseguido no mandato anterior, do PMDB.
A indústria do Rio Grande do Sul nesse período cresceu quase sete vezes a média nacional: 11,7%, contra 1,7% no país.
Ao longo do mandato atual recebemos, porém, de forma orquestrada, de uma parte importante dos meios de comunicação locais -que tinham íntimas relações políticas com o sr. Antonio Britto-, uma oposição que visava suscitar -e em parte conseguiu- um feroz e irracional antipetismo. Essa oposição sectária encontrou eco num setor das classes conservadoras ("superiores") do Estado, motivadas por uma campanha que não se cansou de sugerir que o PT do Estado não só é "extremista" de esquerda, mas também é autoritário e "afugenta empresas".


A disputa em nosso Estado é entre o Brasil que está terminando, melancolicamente, e o Brasil que nasce das urnas


Não importa que o fato seja desmentido pelas estatísticas -inclusive as informações do BNDES, se compararmos o êxodo de empresas no governo Britto e os investimentos privados aqui acolhidos e estimulados pelo nosso governo.
Na verdade, a disputa que ocorre em nosso Estado é entre o Brasil que está terminando, melancolicamente, com um modelo econômico que precisa de US$ 30 bilhões para pagar juros e serviços da dívida e o Brasil que nasce das urnas, com Lula presidente. Um presidente que iniciará a construção de um novo contrato social no país, seguramente baseado nos seguintes pontos: inserção soberana do país na nova ordem global; desenvolvimento que gere e distribua renda, para reduzir drasticamente as desigualdades sociais e regionais; fortalecimento, qualificação tecnológica e proteção (como fazem os países "ricos") da nossa base produtiva instalada; fortalecimento das instituições republicanas e participação cidadã.
Toda essa agenda será cumprida com a formação de uma nova maioria política, para governar o país, que corresponda à abrangência e à amplitude dessas tarefas históricas, para que elas possam transitar com estabilidade e previsibilidade.
O Rio Grande tem a sorte de, neste segundo turno, ter uma especial nitidez nas propostas em disputa. Nosso adversário foi líder do governo FHC, apóia José Serra e foi governo no período anterior. O mesmo governo em que foram promovidas as privatizações que o próprio ex-governador do PMDB, antes de as fazer, afirmou que estavam excluídas do seu programa, porque seriam "criminosas" (literalmente).
No primeiro turno, uma exagerada polarização nossa com o ex-governador Antonio Britto permitiu que o nosso adversário atual corresse "solto" e se apresentasse como isento de qualquer relação com os "lados" em confronto.
Estamos conscientes da extrema responsabilidade que nos exige o segundo turno: dar nitidez às biografias políticas dos candidatos e às propostas de ambas as frentes políticas em contenda, para que o Rio Grande, que tanto já contribuiu na história pátria, possa mais uma vez contribuir com o povo brasileiro.
Porto Alegre tornou-se, por meio das quatro administrações da Frente Popular, uma cidade mundialmente reconhecida pela qualidade da sua gestão pública e pela sua capacidade de revigorar a democracia representativa, através dos foros de participação direta, que reforçaram as instituições tradicionais da República. O Rio Grande do Sul começou, com o nosso primeiro governo, esse mesmo caminho. Teve resistências porque contrariou interesses daqueles que utilizavam a máquina pública para defender suas necessidades "particularistas". No segundo governo temos condições de avançar, fazer mais e melhor.
Principalmente porque não estaremos remando (quase isolados no país) contra a maré neoliberal, concentradora de renda e de poder, mas entraremos numa nova etapa histórica do Brasil, com Lula governando para todos.


Tarso Genro, 55, advogado, é o candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul. Foi prefeito de Porto Alegre (1993-96 e 2001-02) e deputado federal (1989-90).


Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES
Germano Rigotto: Um Rio Grande para todos

Próximo Texto: Painel do leitor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.