São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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Exemplo colombiano

POLÍTICOS E marqueteiros gostam de oferecer "soluções" simples para os problemas que lhe são apresentados. Assim, quando confrontado com a questão da violência, por exemplo, um tenderá a abraçar um "slogan" como "Rota na rua"; outro dirá que nada será resolvido enquanto as grandes assimetrias na distribuição de renda não forem equacionadas.
Os dois estão errados. É cada vez mais consensual entre especialistas a convicção de que a violência é um fenômeno multifatorial cujo enfrentamento exige várias abordagens.
O caso colombiano é elucidativo. Como relatou Gilberto Dimenstein em reportagem publicada no domingo passado, nos anos 90 o país viveu uma explosão de violência, para a qual contribuíam, além da pobreza característica da América Latina, narcotráfico, guerrilha e grupos paramilitares. Em Medellín, por exemplo, em 1991, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes era de impressionantes 361 -a título de comparação, em São Paulo ela é de 24 (2005).
Hoje, Medellín ostenta um índice de 39 assassinatos para cada 100 mil habitantes. O número ainda é alto, mas a redução de 90% em 15 anos é significativa.
O que ocorreu? Medellín continua pobre: 40% da população vive com menos de US$ 2 por dia. Mas uma série de ações envolvendo todos os níveis de governo conseguiu reduzir o poder de narcotraficantes, guerrilheiros e paramilitares. O Estado chegou às favelas com policiais comunitários, agentes de saúde, mediadores de conflito. Condenados por tráfico foram convidados a dar palestras a jovens contando sua experiência. Bibliotecas foram espalhadas pela cidade.
O Brasil tem muito a aprender com a Colômbia. Mas deve, antes de mais nada, romper de vez com a idéia de que existem soluções mágicas para problemas complexos como o da violência.


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