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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A vergonhosa pichação
NÃO É DE HOJE que abro o
meu coração nesta coluna
para lamentar a sujeira que
domina as paredes dos edifícios
públicos e privados de São Paulo.
Trata-se de uma sujeira grotesca,
ofensiva, sem sentido.
Uma coisa é a arte do grafite. Outra é essa nojenta prática da pichação, que ofende a alma dos que aqui
vivem, do centro da cidade até as
periferias, nos quatro pontos cardeais. Não há lugar por onde se passa sem ser agredido por mensagens
desconexas que bem representam
o caos mental dos seus autores.
A capital de São Paulo está disputando o primeiro lugar nesse nefasto exercício de pichar as paredes e
os muros. Observei cuidadosamente a situação do Rio de Janeiro nesse item. Pelo menos no centro e na
região das praias, a limpeza é
exemplar, o que não ocorre em São
Paulo. Há cerca de dois anos, vi
muita limpeza em várias outras cidades do país.
O que explica tanta sujeira em
São Paulo? Isso me intriga. Não sou
capaz de dar uma resposta satisfatória. Chego apenas a algumas hipóteses.
De um lado, penso que as autoridades se omitem na limpeza imediata daquilo que foi emporcalhado por vândalos insensíveis. De outro, sinto a ausência de um sistema
que combine, em dose certa, punição com educação. Aos que violam
os espaços públicos, os juízes poderiam intensificar o uso das penas
alternativas, colocando nas mãos
desses meliantes tinta e pincel para
pintarem escolas, hospitais e repartições públicas.
Ao lado disso, gostaria muito de
ver as crianças aprendendo no lar e
na escola que sujar um bem público é ofender o semelhante, pois
ninguém é obrigado a olhar para
mensagens indecifráveis e de extremo mau gosto.
Já externei várias vezes o meu
amor por São Paulo, terra onde
nasci e trabalho há 57 anos. Trata-se de uma cidade bonita. O centro
abriga belas obras de arquitetura
inspiradas no gênio de Ramos de
Azevedo. A praça da República, o
largo do Arouche, o jardim do Trianon e as avenidas 9 de Julho e Paulista têm o seu encanto quando se
olha para o seu desenho e para a beleza das árvores e dos jardins.
Cada vez mais essa São Paulo está ficando como lembrança do passado. Hoje, além da pichação, as
ruas e as praças foram tomadas por
moradores que ali dormem, cozinham e lavam suas roupas como se
estivessem num quintal.
São Paulo tem tudo para acabar
com esse vergonhoso quadro. É
questão de tomar as medidas adequadas. Sujeira nada tem a ver com
pobreza. Tem a ver com civilidade.
Está na hora de encetarmos um
grande movimento por uma São
Paulo mais limpa e para dizermos
ao mundo que somos uma cidade
civilizada.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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