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FERNANDO RODRIGUES
A Flórida latina
MIAMI - Os EUA elegem neste
ano o primeiro negro ou o mais idoso presidente do país. Será uma decisão de relevância histórica sem
precedentes. Mas há outras complexidades regionais com grande riqueza simbólica e política.
É o caso do voto latino aqui na
Flórida. Cerca de 20% do eleitorado
do Estado é de origem hispânica.
Grande parte tem raiz em Cuba e no
anticastrismo. Por décadas, esse foi
um reduto republicano. Agora, há
sinais de mudança.
Pesquisas mostram os latinos divididos ao meio entre o democrata
Barack Obama e o republicano
John McCain. É impossível prever
o desfecho, mas é clara a trajetória
declinante do eleitorado pró-linha
dura em relação a Cuba.
Na região de Miami, onde estão
os latinos, observa-se um abismo
geracional e de entusiasmo entre as
duas campanhas. Na segunda-feira
à tarde, o comitê central republicano estava calmo. Mulheres na faixa
dos 60 anos e com laquê no cabelo
recebiam os poucos visitantes
-apenas dois em uma hora.
"Posso olhar a sala dos telefones?", perguntei. Trata-se de um
galpão onde os voluntários se revezam para fazer ligações e conquistar eleitores. A assessora pediu alguns minutos. Percebi quando funcionários foram levados para o local. Sentaram-se em frente às mesas. Fingiram estar telefonando.
Ainda assim, muitos aparelhos ficaram desocupados.
No mesmo momento, uma massa
de 50 mil pessoas participava de um
comício de Obama na cidade de
Tampa. Ontem, mais 50 mil eram
esperadas à noite num evento obamista no centro de Miami.
Os democratas só venceram duas
das dez últimas eleições na Flórida.
Desta vez, o eleitorado conservador
mostra-se mais frágil. Há menos
terror no ar contra Cuba. Esse cenário pode não se transformar em
realidade já, mas tem pinta de ser
inevitável no futuro.
frodriguesbsb@uol.com.br
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