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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Insensibilidade - 2

BRASÍLIA - Leitores escrevem. Os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Cristovam Buarque (Educação) telefonam. Fazem reparos ao aqui exposto na quarta-feira em relação à insensibilidade de parte do governo no debate sobre redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
Dos leitores, a maior crítica é que os políticos não podem ser atacados por serem sinceros ao dizer o que pensam. Márcio Thomaz e Cristovam deram declarações peremptórias contra a redução da maioridade.
Em seus telefonemas, os dois ministros repetiram suas convicções. Não enxergam razão para esconder suas idéias. Márcio Thomaz acrescentou um dado: quando se declarou "radicalmente" contra a redução da maioridade penal, não relacionou a pergunta ao drama ocorrido em São Paulo -o casal de namorados assassinado por um menor de idade.
Como já exposto na quarta-feira, diminuir a maioridade não parece ser uma solução apropriada para reduzir a criminalidade. Mas nem é esse o ponto. Também seria um disparate desejar que um ministro mentisse sobre suas posições ideológicas. O problema é mais embaixo.
O fato a ser registrado é a falta de tato de quem fala, como se não existisse o assassinato do casal de namorados em São Paulo.
A espontaneidade não é um valor ruim. Pode até ser um predicado. Seria desejável que todos os políticos fossem sinceros. Ocorre que não são.
Márcio Thomaz e Cristovam, quando falaram, dando a impressão de frieza diante de um drama de alto calibre socioemocional, ajudaram a desconstruir a imagem, vá lá, "humana" que Lula gosta de imprimir à sua administração.
A explicação dos ministros é que eles preferem ser assim, sinceros. Tudo bem. Seria o caso então de também declinarem em público o que dizem em privado sobre certos políticos fisiológicos e/ou egressos da direita hoje na coalizão lulista. Aí seria pedir demais. A sinceridade, como se sabe, tem limites e é seletiva.


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