São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2004

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FREIO NO CONSUMO

Foram divulgadas na semana passada novas evidências de que há algum tempo a economia brasileira está em desaceleração. A Pesquisa Mensal do Comércio, realizada pelo IBGE, apurou que em setembro o volume de vendas do comércio varejista foi quase 9% superior ao observado em setembro de 2003. O resultado, à primeira vista auspicioso, foi muito influenciado pela base de comparação baixa.
De fato, cotejando as vendas de setembro com as de agosto, sem as influências sazonais, bancos e consultorias constataram um pequeno recuo. Como também de julho para agosto observara-se queda das vendas, elas fecharam o terceiro trimestre em nível quase idêntico ao verificado no segundo trimestre.
Esses resultados caracterizam um ritmo mais lento do consumo, que desde o terceiro trimestre do ano passado se mantinha em alta progressiva. O segmento que mais contribuiu para a desaceleração foi o de bens de consumo duráveis, que vinha liderando a alta. De agosto para setembro, as vendas de duráveis -as mais sensíveis às condições de crédito- tiveram leve queda.
Setembro, vale lembrar, foi o primeiro mês em que o Banco Central (BC) voltou a elevar a taxa de juros básica. Em agosto, a autoridade monetária já havia sinalizado que faria esse movimento. A resposta do comércio foi rápida: estancou a redução dos juros e o aumento do número de prestações no crediário.
A estagnação das vendas do comércio no terceiro trimestre deve ser vista como um alerta. O modelo econométrico empregado pelo BC para orientar a política monetária supõe que uma alteração nos juros leva pelo menos três meses para impactar a atividade econômica.
Essa hipótese é discutível, mas, admitindo-se que seja correta, a desaceleração do consumo no terceiro trimestre não teria sido influenciada pelo aumento de juros. A conclusão lógica seria a de que outros fatores, como a progressiva satisfação da demanda represada por duráveis e o estreitamento do fôlego de endividamento das famílias, já estavam atuando como freios ao consumo.


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