São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

Alguns ricos e o governo Lula

SÃO PAULO - Os ricos já não falam do governo Lula com a surpresa condescendente de, digamos, ano e meio atrás. Volta a ser comum a derrisão de classe explícita, a irritação com "incompetências", o desejo de colocar no poder alguém que satisfaça mais rapidamente as necessidades da grande empresa. É o que transparece de uns dias de visitas a diretorias de bancos, a reuniões e seminários desses empresários e executivos típicos do Conselhão do Lula.
Impostos, é óbvio, é a queixa mais óbvia. Não causou muito impacto a queda de Carlos Lessa do BNDES, mas sim a sensação de bagunça e falta de rumo no governo. Muito se fala é de PPPs, as Parcerias Público-Privadas, a privatização-terceirização de Lula. Queixas sobre a "inoperância" do Congresso, muita vez atribuída a José Dirceu e a João Paulo, o presidente da Câmara, que só "pensam em política" e não no "Brasil real". Dirceu é motivo de irritação; João Paulo, de desdém.
Não só os interessados diretos em PPPs estão irritados. Muito empresário se refere ao assunto para exemplificar a paralisia de decisões e a falta de perspectivas: "Ninguém sabe se vai ter porto, estrada, energia, investimento. Quem tem coragem de soltar o dinheiro?". Por falar em energia, poucas queixas sobre Dilma Roussef e sua reestruturação do setor elétrico. "Mas só vamos ver se isso deu certo mesmo daqui a um, dois anos", diz um grande executivo do ramo.
Antonio Palocci continua rei, mas há impaciência em relação a um segundo pacote de bondades (menos impostos). Críticas para o fato de, com dois anos de governo, não ter aparecido um projeto de reduzir a burocracia que emperra a vida das empresas. Muita irritação com o "pessoal da indiazinha", como mais de um empresário se referiu aos "xiitas" e à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que demoram a dar licenças ambientais a projetos de usinas e fábricas. Irritação com o Cade e sua "lentidão de acadêmico sem noção da vida prática".
O país vai crescer 4,5%, mas é grande a incerteza sobre o futuro da economia.


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