São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

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ANTONIO DELFIM NETTO

Crescimento

É MUITO saudável a idéia que tomou conta do Brasil de que não é mais possível continuarmos a registrar um crescimento medíocre. Nos últimos 12 anos, crescemos à taxa média de 2,4%, e a população cresceu em torno de 1,5% ao ano.
Com isso, o PIB per capita cresceu à taxa de 0,9% ao ano. Com esses números pavorosos, a renda de cada brasileiro dobrará na eternidade de 77 anos, à cada três gerações!
Apenas para registro, no período 1950-1984, crescemos 6,5% ao ano, e a população crescia à taxa de 2,7% ao ano. O PIB per capita cresceu à taxa de 3,7% ao ano: a renda do brasileiro médio dobrava a cada 19 anos, qualquer coisa como 3/4 de uma geração!
A última vez que o Brasil cresceu robustamente foi no governo Itamar Franco, quando registramos a média (1993/94) de 5,5%, mas com uma tenebrosa taxa de inflação anual maior do que 900%.
A tabela abaixo compara a situação brasileira no final dos três últimos governos:



Ela mostra que, dos dez itens selecionados, o Brasil melhorou fortemente em cinco, particularmente na inflação e no equilíbrio externo. O paradoxo que é preciso explicar é por que um plano tão brilhante como o Real terminou na castração do espírito de desenvolvimento nacional?
A causa básica da inflação brasileira era muito menos o déficit orçamentário monetizado e muito mais a eficiência dos mecanismos de correção monetária, de uso em prazos cada vez mais curtos, que se construíram para defender o rendimento dos agentes (inclusive o governo). As três últimas linhas da tabela sugerem a solução do enigma: fomos procurar a chave do automóvel perdida na escuridão da boate sob a luz do lampião da rua e construímos um Estado que não cabe mais no PIB brasileiro.
Se não encontrarmos um programa inteligente, transparente e capaz de cooptar o setor privado para resolver isso, será difícil encontrar o desenvolvimento perdido...

dep.delfimnetto@camara.gov.br

ANTONIO DELFIM NETTO
escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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