|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Segurança se melhora com recursos
TÚLIO KAHN
Observando com isenção as tendências criminais, há muito mais motivos para se sentir seguro hoje em São Paulo do que em 2001
PASSADO O período eleitoral, é
possível fazer uma análise isenta
da política de segurança no Estado de São Paulo e dos resultados obtidos nos últimos cinco anos, deixando
de lado as bravatas de campanha.
O governo federal chamou de incompetente a política de segurança
paulista em razão dos atentados executados por facções criminosas. Mas,
enquanto o governo federal cortou
pela metade os escassos recursos do
Fundo Nacional de Segurança Pública, em São Paulo, a Secretaria da Segurança Pública se tornou o segundo
maior orçamento do Estado -mais de
R$ 7 bilhões. E não existe melhor indicador da prioridade numa área do
que o montante de recursos destinados a ela.
E quais foram os resultados dessa
política? As estatísticas do terceiro
trimestre permitem acompanhar a
evolução da criminalidade no Estado
desde o mesmo período de 2001, ano
em que Geraldo Alckmin assumiu o
governo. Com exceção dos furtos
-crime não violento e que pode ter
crescido em razão das facilidades de
notificação, com a delegacia eletrônica-, todos os principais indicadores
criminais caíram: seqüestros, homicídios, latrocínios, roubos de veículos
e estupros.
Em 2001, morriam 903 pessoas por
mês vítimas de homicídio doloso no
Estado. A média em 2006 caiu para
483 casos, 46% a menos que em 2001,
comparando os terceiros trimestres.
No mesmo período, a média mensal
de latrocínios caiu 47%, os roubos e
furtos de veículos diminuíram em
18%, e os estupros, em 17%. Os seqüestros caíram de 78, em 2001, para
25 casos neste trimestre.
A série histórica mostra que a queda nos homicídios e latrocínios tem
início em 2000, nos roubos de veículos, em 2001, nos roubos e seqüestros, em 2003, e nos estupros e furtos
de veículos, em 2005. Os fatos são teimosos, diz um ditado inglês, e valem
mais do que mil planos eleitoreiros.
Nem todos os crimes caíram no
mesmo ritmo e outros continuam a
crescer, mas, pelo menos, no que diz
respeito aos crimes mais graves, a diminuição foi significativa e digna de
constar no rol dos casos de sucesso de
redução da criminalidade, como o colombiano e o norte-americano.
Quando a criminalidade aumenta,
a polícia é responsabilizada, mas,
quando cai, aparecem centenas de explicações e gente disposta a assumir a
paternidade. O governo federal quer
crédito pela queda dos homicídios,
mas acha que os cortes nos fundos
penitenciário e de segurança nos últimos anos não têm relação com o crescimento das facções criminosas.
Facilitada pelo advento e disseminação no policiamento ostensivo de
sistemas georreferenciados, como o
Infocrim e o Copom on line, e pela
criação do disque-denúncia e do sistema guardião na área da investigação, para mencionar apenas alguns
projetos, presenciamos nestes anos
uma mudança de paradigma na polícia paulista, que implicou deixar de
lado esquemas preconcebidos de policiamento e a "intuição" policial e
adotar uma gerência territorial integrada, baseada em análise de informações criminais, que resultou numa
pequena revolução gerencial na segurança pública.
É preciso, portanto, avaliar objetivamente os acertos e os erros cometidos sem jogar o bebê com a água do
banho e sem se deixar impressionar
só pelas fortes imagens televisivas. A
Secretaria da Segurança Pública não
se deixou levar pelo discurso fácil do
endurecimento e da brutalidade para
enfrentar os ataques das facções criminosas porque confia, com serenidade, nessa política de longo prazo,
de gestão baseada na informação e na
inteligência policial, cujos primeiros
frutos já se manifestam.
As estatísticas criminais e os números frios dos investimentos não
têm o mesmo apelo midiático, mas
acredito que são indicadores mais
adequados para avaliarmos a competência da administração, embora se
saiba que o desempenho na esfera da
segurança dependa em grande parte
de fatores alheios às polícias.
Infelizmente, a sensação de segurança nem sempre corresponde à
realidade e acompanha muito mais o
ritmo dos episódios dramáticos do
que a evolução da criminalidade. Observando com isenção as tendências
criminais, vemos que há muito mais
motivos para se sentir seguro hoje em
São Paulo do que em 2001. Oxalá os
recursos federais voltem para ajudar
o bom trabalho que as polícias de São
Paulo estão fazendo.
TÚLIO KAHN, 41, sociólogo, doutor em ciência política pela USP, é coordenador de Análise de Planejamento da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo. É autor, entre outras obras, de "Nova e Velha Polícia".
Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Boaventura de Sousa Santos: Lula e a esquerda Próximo Texto: Painel do Leitor Índice
|