O PRESIDENTE Lula disse que a descoberta do campo de petróleo de Tupi, na plataforma continental, "provou que Deus é brasileiro" e afirmou que "foi uma benção de Deus para o Brasil ter uma empresa (...) como a Petrobras". Isso é verdade. Até o final da próxima década, o Brasil terá acrescentado uma nova e poderosa fonte de energia à sua lista já rica de recursos naturais. Especialistas do setor petroleiro já estão prevendo que a produção será iniciada em 2013, com uma meta inicial de extração de 100 mil barris de petróleo cru leve ao dia.
Mas o Brasil já teve sorte no passado. As primeiras indústrias têxteis da Europa no século 16 eram ávidas usuárias do corante extraído das árvores de pau-brasil. O país dispunha de várzeas tão ricas no século 17 que ninguém antes havia visto a cana-de-açúcar crescer tão rapidamente e propiciar tamanhos lucros. No século 18, o ouro e os diamantes eram tão abundantes que ajudaram a reconstruir Roma e a capitalizar a Bolsa de Valores de Londres. Depois veio o boom da borracha no começo do século 20, e a descoberta de Carajás, em 1967. O problema sempre esteve na forma pela qual os recursos financeiros gerados por esses booms foram utilizados.
Em minha primeira visita ao Rio, nos anos 60, por exemplo, havia um porta-aviões decrépito ancorado perto da ilha das Cobras. O navio jamais deixava o atracadouro.
Foi adquirido usado do Reino Unido em 1956, e apenas em 1998 a disputa entre Marinha e Força Aérea quanto ao uso de aviões de asa fixa pela embarcação foi resolvida. Cinqüenta anos antes, o Brasil adquirira dois dos maiores e mais modernos couraçados então disponíveis, modelos atualizados inspirados pelo revolucionário couraçado britânico Dreadnought. Pouco depois de chegarem à baía da Guanabara, suas tripulações, compostas em larga medida por afro-brasileiros, se rebelaram contra os oficiais brancos na infame Revolta da Chibata, em 1910, e apontaram seus canhões contra a então capital.
A Marinha há muito deseja um submarino nuclear. Agora, o ministro da Defesa encontrou uma justificativa para o projeto: defender o novo campo petroleiro de Tupi. Mas Lula teve uma idéia melhor ao se eleger pela primeira vez: a de que todos os brasileiros deveriam ter acesso a três boas refeições todos os dias. Dado o mais recente exemplo da sorte brasileira, a elas deveriam ser acrescentadas uma boa educação, um bom serviço de saúde pública e, claro, boa segurança pública. Isso sim seria motivo de celebração. Boa sorte seguida por bom juízo.