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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Abstenção pela pedra
SÃO PAULO - Argentina, Chile, Japão, EUA e a Europa, num total de
80 países, aprovaram resolução na
ONU, encaminhada pelo Canadá,
contra as "recorrentes violações
dos direitos humanos" por parte do
governo do Irã. O Brasil se absteve.
Votou como Sudão, Síria, Líbia, Cuba e Venezuela, entre outros.
Na resolução, está em jogo o repúdio às execuções por apedrejamento, às execuções de menores, à
tortura, às mutilações, à perseguição a mulheres, minorias e presos
políticos pelo Estado iraniano.
Ao justificar a posição brasileira,
a embaixadora Maria Luiza Viotti
defendeu que os direitos humanos
devem ser examinados "de uma
maneira holística, multilateral,
despolitizada e não seletiva".
Maneira "holística"? Cabe um
"voto de protesto" contra esse jargão eufemístico, a serviço da empulhação diplomática? Diante da iraniana que está prestes a morrer
apedrejada, a fala brasileira soa
simplesmente cínica.
Mas a abstenção do Brasil também é política. Ela faz eco à posição
do próprio Irã, que vê na defesa dos
direitos humanos uma cortina de
fumaça para os interesses da política externa norte-americana.
O Brasil se nega a criticar o Irã
publicamente. Insiste que a cooperação e o diálogo são preferíveis ao
isolamento de Ahmadinejad. Na
prática, transige com a barbárie,
negociando vergonhosamente os
direitos humanos, em nome, talvez, de um antiamericanismo fora
de época e de lugar, como quem
quisesse acertar contas do passado
por razões equivocadas.
Lula, ao oferecer asilo a Sakineh
Ashtani, acredita ter feito a sua parte. Lavou as mãos. Mas o Brasil será
cobrado, e com razão, se sua execução se consumar. Por que não tratar
o caso Sakineh como um divisor de
águas? Ou melhor: por que, sabendo que ele assumiu essa dimensão,
emprestar solidariedade aos facínoras? Por que jogar o peso político
do país na simpatia acovardada e
covarde pelo obscurantismo? Pois
é disso, afinal, que se trata.
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