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A MÍDIA COMO ARMA
O projeto de criação de uma
TV árabe, que está sendo patrocinado pelo governo norte-americano, é uma arma que não lançará
bombas ou mísseis, mas emitirá
conceitos, idéias, interpretações e
versões de fatos. Trata-se de um artefato da chamada guerra ideológica.
Sua principal missão será quebrar o
que Washington considera um antiamericanismo atávico de redes de
notícias árabes como a Al Jazira.
A nova TV, que se chamará Al Hurra (algo como "A Livre"), terá sede
num parque industrial em Springfield, Virgínia, um subúrbio de Washington, e deverá iniciar suas transmissões já em janeiro. A verba do
projeto é de US$ 62 milhões para o
primeiro ano. Mais de 200 pessoas,
boa parte delas árabe, deverão ser
contratadas. A iniciativa de colocar
Al Hurra no ar é o mais ambicioso
projeto de mídia do governo dos
EUA desde o início das difusões da
rádio Voz da América, em 1942.
A idéia de levar às populações árabes a versão americana dos fatos
através de um novo veículo é legítima. Embora novas TVs árabes como
Al Jazira e, em menor grau, Al Arabiya representem um avanço em termos de independência da mídia para
os padrões da região, é inegável que
elas exibem um tom que pode ser
considerado antiamericano. Fazem-no, em larga medida, porque a opinião pública árabe, por razões que
não cabe aqui analisar, é fortemente
antiamericana. E o é a tal ponto que
há dúvidas se Al Hurra conseguirá
vencer as resistências iniciais.
Pesquisas qualitativas para o lançamento da emissora, realizadas no
Egito e no Bahrein, mostraram uma
reação positiva do público ao produto. Quando se perguntava, porém, se
uma rede "justa e equilibrada" poderia ser americana, alguns responderam "de jeito nenhum".
É cedo para dizer se Al Hurra vai ou
não cumprir seu objetivo. De todo
modo, é preferível que os EUA, no
intuito de levar suas idéias aos árabes, utilizem como arma uma TV a
bombas e mísseis.
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