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São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

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A MÍDIA COMO ARMA

O projeto de criação de uma TV árabe, que está sendo patrocinado pelo governo norte-americano, é uma arma que não lançará bombas ou mísseis, mas emitirá conceitos, idéias, interpretações e versões de fatos. Trata-se de um artefato da chamada guerra ideológica. Sua principal missão será quebrar o que Washington considera um antiamericanismo atávico de redes de notícias árabes como a Al Jazira.
A nova TV, que se chamará Al Hurra (algo como "A Livre"), terá sede num parque industrial em Springfield, Virgínia, um subúrbio de Washington, e deverá iniciar suas transmissões já em janeiro. A verba do projeto é de US$ 62 milhões para o primeiro ano. Mais de 200 pessoas, boa parte delas árabe, deverão ser contratadas. A iniciativa de colocar Al Hurra no ar é o mais ambicioso projeto de mídia do governo dos EUA desde o início das difusões da rádio Voz da América, em 1942.
A idéia de levar às populações árabes a versão americana dos fatos através de um novo veículo é legítima. Embora novas TVs árabes como Al Jazira e, em menor grau, Al Arabiya representem um avanço em termos de independência da mídia para os padrões da região, é inegável que elas exibem um tom que pode ser considerado antiamericano. Fazem-no, em larga medida, porque a opinião pública árabe, por razões que não cabe aqui analisar, é fortemente antiamericana. E o é a tal ponto que há dúvidas se Al Hurra conseguirá vencer as resistências iniciais.
Pesquisas qualitativas para o lançamento da emissora, realizadas no Egito e no Bahrein, mostraram uma reação positiva do público ao produto. Quando se perguntava, porém, se uma rede "justa e equilibrada" poderia ser americana, alguns responderam "de jeito nenhum".
É cedo para dizer se Al Hurra vai ou não cumprir seu objetivo. De todo modo, é preferível que os EUA, no intuito de levar suas idéias aos árabes, utilizem como arma uma TV a bombas e mísseis.



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