|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Pé-de-meia
SÃO PAULO - Eis o espírito que
anima a grande maioria dos políticos brasileiros, saída da boca de
Semy Ferraz, deputado estadual
(PT) em Mato Grosso do Sul, para
defender a pensão vitalícia de R$
22,1 mil para ex-governadores do
Estado, aprovada pela Assembléia
Legislativa local:
"É melhor o Estado proteger o
ex-governador do que ele ter que fazer pé-de-meia".
Tradução para português franco
e direto: "É melhor o governador
(no caso, Zeca do PT) continuar
mamando nas tetas do Estado do
que ser obrigado a sair por aí fazendo trambiques".
Fica implícito que as delicadas
mãos do governador em fim de
mandato não podem ser usadas em
qualquer outra atividade remunerada (e honesta) que não seja a de
contar as notas que o erário colocará nelas todo mês.
Fica explícito que político que se
acostumou com a boquinha pública
não vai querer outra forma de "fazer pé-de-meia". Aliás, os gordos
salários e demais benefícios dos deputados, que chegam a R$ 99 mil
mensais, não impediram um belo
naco deles de "fazer pé-de-meia"
com trambiques vários, desde o
mensalão até o esquema de sanguessugas.
O argumento de Semy Ferraz é,
portanto, cínico e mentiroso ao
mesmo tempo.
Mas acaba servindo para demonstrar qual é o espírito, nada público, predominante em 9 de cada
10 políticos brasileiros.
O mundo político, com o perdão
pela insistência, trabalha para ele
próprio, legisla para ele próprio,
cuida única e exclusivamente de
seu próprio interesse, com as exceções (poucas) que apenas confirmam a regra.
Megaaumento de salários, pensões vitalícias igualmente obscenas, são apenas decorrência. Como
o eleitor só reage tímida e ocasionalmente, o pé-de-meia deles continuará engordando.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: É preciso informar Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Grave a crise Índice
|