São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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Deflação global

As quedas nas cotações dos ativos financeiros e nos preços dos bens redobram ameaça sobre a economia mundial

AS BOLSAS de Valores no mundo apresentaram uma desvalorização estimada em US$ 31,8 trilhões, de outubro de 2007 a novembro de 2008. Os preços dos imóveis caem em EUA, Reino Unido, Espanha e Austrália.
Desde julho, as três maiores economias -Estados Unidos, Japão e União Européia- passaram a enfrentar também uma queda renitente nos preços dos bens e serviços. A inflação anual para o consumidor americano, por exemplo, caiu de 5,6% em julho para 1,1% em novembro.
Na área do euro, a inflação anual foi reduzida para 2,1% em novembro, quando houve variação negativa de 0,5% na zona do euro e de 0,4% na União Européia. No Japão, os preços ao consumidor diminuíram de 2,4% em julho para 1,7% em novembro. No atacado, caíram 1,9% em novembro ante outubro, quando já haviam recuado 1,4%.
Uma queda generalizada dos preços configura um cenário particularmente ruim para o desenrolar da crise. A deflação torna o valor da moeda maior no futuro do que no presente. Consumidores e empresas entesouram seus fluxos de renda e adiam os gastos, esperando uma queda ainda maior nos preços. Toda a economia vai parando.
Além disso, a queda dos preços aumenta o valor real das dívidas. Os agentes se sentem relativamente mais endividados do que seus patrimônios e/ou suas rendas. Isso faz com que busquem aumentar a poupança para pagar as dívidas e/ou vender ativos, o que deprecia ainda mais os preços de imóveis, ações etc.
Nos EUA, a dívida bruta do setor privado (famílias, empresas e setor financeiro) atingiu US$ 41,8 trilhões, o equivalente a 290% do PIB no terceiro trimestre de 2008. Como os agentes estão endividados, uma corrida pela redução das dívidas pode provocar uma gigantesca onda de insolvência, queda na demanda e maior deflação, num circuito negativo que se auto-alimenta.
A deflação dificulta, ainda, a obtenção de taxas de juros reais negativas pelas autoridades monetárias, a fim de estimular o consumo. Tomando o exemplo da economia americana, a taxa de juros de curto prazo caiu para um intervalo entre 0,25% e 0% em dezembro.
A inflação ao consumidor foi de 1,1% nos 12 meses encerrados em novembro. A taxa de juros de curto prazo americana é, portanto, menor do que a variação nos preços, ou seja, negativa. Se a deflação persistir, a taxa de juros real pode vir a ficar positiva, o que será uma barreira a mais para a recuperação da economia.
Diante do risco de um ciclo deflacionário, países desenvolvidos e em desenvolvimento reduzem suas taxas de juros. Na semana passada, Noruega, República Tcheca, Hong Kong, Arábia Saudita, Kuait e Omã seguiram a decisão dos EUA. Muitos governos também ampliam seu gasto.
Estima-se uma expansão das despesas públicas de US$ 1 trilhão em 2009, pelos diferentes países, a fim de evitar a instauração de declínios persistentes nos preços, com repercussões deletérias sobre a atividade e emprego. Trata-se do último recurso convencional a ser empregado no combate a recessões.


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