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Deflação global
As quedas nas cotações dos ativos financeiros
e nos preços dos bens redobram ameaça sobre a economia mundial
AS BOLSAS de Valores no
mundo apresentaram
uma desvalorização estimada em US$ 31,8
trilhões, de outubro de 2007 a
novembro de 2008. Os preços
dos imóveis caem em EUA, Reino Unido, Espanha e Austrália.
Desde julho, as três maiores
economias -Estados Unidos,
Japão e União Européia- passaram a enfrentar também uma
queda renitente nos preços dos
bens e serviços. A inflação anual
para o consumidor americano,
por exemplo, caiu de 5,6% em julho para 1,1% em novembro.
Na área do euro, a inflação
anual foi reduzida para 2,1% em
novembro, quando houve variação negativa de 0,5% na zona do
euro e de 0,4% na União Européia. No Japão, os preços ao consumidor diminuíram de 2,4% em
julho para 1,7% em novembro.
No atacado, caíram 1,9% em novembro ante outubro, quando já
haviam recuado 1,4%.
Uma queda generalizada dos
preços configura um cenário
particularmente ruim para o desenrolar da crise. A deflação torna o valor da moeda maior no futuro do que no presente. Consumidores e empresas entesouram
seus fluxos de renda e adiam os
gastos, esperando uma queda
ainda maior nos preços. Toda a
economia vai parando.
Além disso, a queda dos preços
aumenta o valor real das dívidas.
Os agentes se sentem relativamente mais endividados do que
seus patrimônios e/ou suas rendas. Isso faz com que busquem
aumentar a poupança para pagar
as dívidas e/ou vender ativos, o
que deprecia ainda mais os preços de imóveis, ações etc.
Nos EUA, a dívida bruta do setor privado (famílias, empresas e
setor financeiro) atingiu US$
41,8 trilhões, o equivalente a
290% do PIB no terceiro trimestre de 2008. Como os agentes estão endividados, uma corrida pela redução das dívidas pode provocar uma gigantesca onda de insolvência, queda na demanda e
maior deflação, num circuito negativo que se auto-alimenta.
A deflação dificulta, ainda, a
obtenção de taxas de juros reais
negativas pelas autoridades monetárias, a fim de estimular o
consumo. Tomando o exemplo
da economia americana, a taxa
de juros de curto prazo caiu para
um intervalo entre 0,25% e 0%
em dezembro.
A inflação ao consumidor foi
de 1,1% nos 12 meses encerrados
em novembro. A taxa de juros de
curto prazo americana é, portanto, menor do que a variação nos
preços, ou seja, negativa. Se a deflação persistir, a taxa de juros
real pode vir a ficar positiva, o
que será uma barreira a mais para a recuperação da economia.
Diante do risco de um ciclo deflacionário, países desenvolvidos
e em desenvolvimento reduzem
suas taxas de juros. Na semana
passada, Noruega, República
Tcheca, Hong Kong, Arábia Saudita, Kuait e Omã seguiram a decisão dos EUA. Muitos governos
também ampliam seu gasto.
Estima-se uma expansão das
despesas públicas de US$ 1 trilhão em 2009, pelos diferentes
países, a fim de evitar a instauração de declínios persistentes nos
preços, com repercussões deletérias sobre a atividade e emprego. Trata-se do último recurso
convencional a ser empregado
no combate a recessões.
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