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MARCOS NOBRE
Meu caro amigo
MEU CARO amigo, me perdoe, por favor, se demoro
para responder às tuas
mensagens, como se ainda viessem
pelo correio. Você quer saber por
que o Lula anda sendo endeusado
em cada coisa que se escreve sobre
o Brasil por aí. Mas a questão é:
quem está sendo endeusado, Lula
ou o Brasil? Isso hoje divide o país
em situação e oposição. E reúne os
dois no "lulismo".
A tática de Lula é a de se tornar
sinônimo de Brasil. (Tem até filme
agora para dizer isso: "Lula, o filho
do Brasil"). Quem é contra diz que
tudo o que está acontecendo de
bom vem de longe, que é obra do
país, e não de Lula. Mesmo quem é
contra não quer abrir mão do momento de sucesso.
Por que o Brasil está fazendo
tanto sucesso? Porque tem um mar
de dinheiro barato sobrando no
mundo e para algum lugar rentável
ele tem de ir. Adivinha? Para o Brasil, claro. A capacidade que tem o
mercado financeiro de inventar
modas é imbatível. Dinheiro conecta tudo. Até o mercado de arte
brasileiro está bombando. (Acho
que você está longe há tempo demais para saber o que é "bombar":
é algo como "fazer muito sucesso").
Mas as modas do dinheiro sozinhas não explicam tudo. O Brasil
de fato mudou de patamar no cenário. No momento, ainda muito
mais pelo que pode ser do que pelo
que é. O interessante é que a turma
bem posta e bem pensante já colocou o que pode ser no lugar do que
é. Basta alguém lembrar que a barbárie continua reinando para ouvir
imediatamente: "coitado, ainda
não superou o complexo de vira-
lata". E isso de quem é contra e de
quem é a favor do governo, não
importa.
O andar de cima já deu por perdida a luta para desmoralizar a falta
de modos de Lula, que tanta vergonha lhe causa. No fundo, Lula já é
inofensivo porque está impedido
de se candidatar em 2010. Mas o
mais interessante é que até o "lulismo" se tornou em grande medida
aceitável.
Visto do andar de cima, o lulismo
significa a descoberta espantosa de
que pobres que melhoram de vida
consomem. Mais que isso, consomem direitinho, conforme os ditames cafonas de um mercado com a
cabeça em Miami. Sem fazer muita
algazarra. Ou pelo menos fazem algazarra fechados em shoppings
devidamente segregados segundo
seu poder aquisitivo. Não chegam a
incomodar.
Quem incomoda são os políticos
corruptos e o crime em larga escala. Mas faz parte do lulismo tratar
essas coisas quase como efeitos colaterais inevitáveis. Em algum momento, também acabarão se rendendo ao sucesso do país.
Fico por aqui. Já pedindo desculpas pela falta de espírito natalino.
Nada mais lulista do que o Natal.
Do amigo,
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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