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USP, 70
Os 70 anos que a USP (Universidade de São Paulo) completa
no próximo domingo não são quase
nada na escala de tempo das universidades. As instituições mais velhas
da Europa remontam aos séculos 11
(Universidade de Bolonha) e 12 (Universidade de Paris e Oxford). Mesmo
no Novo Mundo, as escolas mais antigas são várias vezes centenárias. A
Universidad Nacional de Lima, no
Peru, data de 1551, a prestigiosa Harvard, nos EUA, é de 1636, e Yale, de
1701. No Brasil, as primeiras universidades datam do século 20.
Apesar da tenra idade, a USP pode
ser qualificada como um caso de sucesso. Seus desdobramentos não
ocorreram no ritmo talvez desejado
pelas oligarquias paulistas responsáveis por sua fundação, cujo propósito era formar "elites poderosas", que
auxiliariam São Paulo a retornar ao
poder após a derrocada da República
Velha e as derrotas para o regime de
Vargas. A elite uspiana só chegou de
fato ao poder federal em 1994, com
Fernando Henrique Cardoso.
Os primeiros professores da universidade vieram, por razões óbvias,
da Europa. Eram as "missões estrangeiras". Grosso modo, franceses ficaram com as disciplinas conhecidas como humanas; italianos, com
as exatas, e alemães -boa parte deles judeus fugindo do nazismo-,
com as biológicas. Estiveram na fundação da USP grandes nomes, como
o antropólogo Claude Lévi-Strauss, o
historiador Fernand Braudel, o sociólogo Roger Bastide, o poeta Giuseppe Ungaretti, o matemático Luigi
Fantappié, o físico Gleb Wataghin, o
químico Heinrich Rheinboldt, o botânico Felix Kurt Rawitscher e o zoólogo Ernst Marcus, entre outros.
Esses cientistas não se deixaram
envolver pela política local, mas foram capazes de ensinar seus alunos a
pensar com método. O resultado pode ser medido. Sete décadas depois,
a USP, com menos de 10% dos pesquisadores do país, produz 25% da
ciência nacional e forma 30% dos
doutores. Pelos critérios do ISI (Instituto para a Informação Científica),
dos EUA, a USP está em 27º lugar entre as mais de 5.000 universidades do
mundo na publicação de artigos
científicos, produção esta que vem
crescendo acima da média mundial.
Paralelamente ao desenvolvimento
da pesquisa, a USP, no que diz respeito às ciências humanas, veio a se
distanciar das elites que estiveram
presentes em sua fundação. A universidade tornou-se uma das principais representantes do marxismo
acadêmico no país. Sob essa influência, produziu toda uma reinterpretação da sociologia, da cultura e da história brasileiras, cujos inegáveis méritos talvez tenham contribuído para
cristalizar visões, dificultando a renovação de seu pensamento.
As realizações do passado e do presente, contudo, não são garantia de
sucesso futuro. A USP, assim como
várias outras universidades brasileiras e do mundo, tem pela frente graves desafios, para os quais ainda precisa encontrar respostas.
Os problemas de financiamento
são crescentes. A universidade já empenha 87% de seu orçamento em pagamento de folha salarial, na qual é
grande o peso dos inativos. Soluções
para essa realidade não deveriam ser
adotadas à custa de queda na qualidade do ensino e da pesquisa.
É de perguntar, ainda, o quanto a
USP poderá contribuir para a revitalização do pensamento político e para
a formulação de projetos de desenvolvimento para o país -e se estará
aparelhada para continuar sendo um
centro de pesquisa nesses tempos
competitivos em que universidades
parecem vir perdendo a primazia na
produção da ciência. Das respostas a
essas questões dependerá a continuação de sua trajetória de sucesso.
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