São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2005

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PAINEL DO LEITOR

Um sonho se desmancha
"Um belo sonho se desmanchou... O sonho de ter a pesquisa agropecuária voltada ao interesse da nação e da massa popular. O sonho acabou com a demissão, na quinta-feira, de Clayton Campanhola, presidente da Embrapa. Muitas foram as obras de Clayton na Embrapa durante os dois anos de sua administração. Certamente as mais destacadas são a reorganização de centros de pesquisa, a firmeza contra o uso dos transgênicos sem a experimentação suficiente nas condições do Brasil e a aproximação com os países pobres da África, apresentando-lhes a experiência brasileira e ganhando o seu amplo mercado para os produtos do nosso país. A sua atitude firme, honesta e científica da necessidade de experimentar, sob as condições do Brasil e em longo prazo, os transgênicos produzidos pelas multinacionais rendeu-lhe a admiração de muitos patriotas, mas provocou inimizade das gigantes multinacionais e dos políticos influentes. Enquanto outros criaram centros avançados da Embrapa em Washington e em Paris, Clayton criou centros em Angola e em Moçambique. Adeus nosso sonho bonito... A semente que o plantou dormirá um pouco, mas não morrerá."
Nagib Nassar, professor titular de genética da UnB (Brasília, DF)

 

"Com satisfação, tomei conhecimento da troca da diretoria da Embrapa. Espero que finalmente o governo petista tenha aprendido que cargos técnicos devem ser ocupados por especialistas, e não por políticos. A Embrapa é um órgão demasiadamente importante para ser administrado por agitadores profissionais do MST. Aliás, já era ora de também substituir o ministro Rossetto e o presidente do Incra, Rolf Hackbart, que se tornaram verdadeiros cavalos-de-tróia dentro do agribusiness brasileiro, sempre agindo contra o setor produtivo."
Luigi Petti (São Paulo, SP)

Juros
"Em texto publicado no dia 21 (Dinheiro, pág. B3), li que o ministro da Fazenda voltou a defender a taxa de juros mais alta do mundo como forma de combater a inflação. Ele deveria dizer a verdade: a maior taxa de juros do mundo foi adotada para manter e aumentar os investimentos financeiros internacionais no país, porque esse jogo é o que sustenta a frágil economia brasileira."
José Luís Vieira de Almeida (Pirassununga, SP)

Itamaraty
"Em "Diplomacia tropical" (Opinião, pág. A2, 21/1), Nelson Motta equivoca-se ao afirmar que "se dispensa o inglês para os diplomatas". Conforme estipulado na portaria 467, de 7 de dezembro de 2004, qualquer candidato ao concurso do Instituto Rio Branco continuará a fazer obrigatoriamente prova de inglês. A portaria torna tal prova classificatória. Durante vários anos, até 1996, a prova de inglês não foi necessariamente eliminatória. Por outro lado, a mudança valoriza os conhecimentos em outras áreas também importantes para a formação e o trabalho do diplomata, como história, geografia, política internacional, direito e economia, além de línguas. Se aprovado no concurso, o candidato estudará inglês e outras línguas no instituto de forma intensa (laboratórios, análise de textos, simulações de negociações internacionais, exames periódicos) e de acordo com o seu nível de preparo nos planos escrito e oral. Não há hipótese de um aluno do Instituto Rio Branco sair do curso da instituição -que dura dois anos e tem nível de pós-graduação- e começar a trabalhar como diplomata sem formação adequada em inglês. A portaria 467 procura atrair vocações que poderiam ser inibidas pelo sistema anterior, pelo qual se estabelecia uma hierarquia entre as provas. Torna, assim, o exame mais justo, mais equilibrado e mais competitivo, permitindo um ingresso mais amplo no Instituto sem perda de qualidade no final do processo de formação."
Ricardo Neiva Tavares, chefe da assessoria de Imprensa do Gabinete do Ministro das Relações Exteriores (Brasília, DF)

Omissões
"O Estado omite-se no Rio de Janeiro. A Federação omite-se no Rio de Janeiro. O crime organizado assume, estabelece-se, insere-se na cultura e tatua as crianças. O governo estadual do Rio já teve tempo, paciência e crédito para assumir o controle do Estado. Não o fez por motivos ocultos e projetos eleitoreiros. Ou seja, para a governadora, o que importa é o poder... do marido. O governo federal já teve tempo, paciência e crédito para compor com o Estado e adotar medidas de seu dever. Não o fez em nome de "observar o Estado de Direito", alegando que aguarda pedido do governo estadual -sabendo que isso nunca vai acontecer. Os Legislativos estaduais e federal nada fazem por amarras de projetos políticos partidários. Ou seja, ninguém fará nada, e o Estado de Direito é direito só para alguns. Assim, o cidadão, em nome do qual o Estado se organiza, é vitima do fisiologismo do Estado. Refém atônito, impotente, acuado, desorganizado e infeliz, fica entregue ao massacre diário. Melhor seria que o Rio de Janeiro referendasse sua cisão do pacto federativo, declarando-se anárquico. No mínimo poderia, com o dinheiro de impostos, organizar a sua defesa."
Maria Inez Santos Vilela (São Paulo, SP)

Febem
"Acompanho atentamente as novas denúncias de tortura na Febem. Infelizmente, o assunto não é novo. Há pelo menos dez anos assistimos à degradante rotina de espancamentos, tortura e morte em suas unidades. E também há pelo menos dez anos vemos o PSDB jogando a culpa nos funcionários e nos meninos. Já está mais do que na hora de os tucanos assumirem a responsabilidade pelos seguidos fracassos nesse verdadeiro campo de concentração de menores."
Suzana Oliveira Penteado (São Paulo, SP)

Leis
"Brilhante e preciso o texto de Theo Dias ("O direito à vida e o direito penal", "Tendências/Debates", 20/1). De fato, a questão central de todo o debate não está em ser contra ou a favor da prática do aborto, mas, sim, em saber se o direito penal é o meio mais eficaz para tratar tal conduta. Parece clara a conclusão de que há outros meios mais adequados."
Guilherme Madi Rezende, advogado (São Paulo, SP)

 

"O artigo de Theo Dias é uma grande contribuição para o debate sobre um tema tão importante nessa nossa sociedade tão carente de informações e de produções lúcidas sobre a prática do aborto. Tratar o aborto como crime e culpabilizar as mulheres apenas tem servido para manter o alto índice de mortalidade materna e de sofrimento das mulheres, que são punidas no atendimento quando procuram ajuda. Quando feministas e outros grupos defendem que o aborto deve deixar de ser uma prática clandestina, estão defendendo que haja políticas efetivas de educação sexual e acesso a métodos contraceptivos -contemplando uma preocupação com critérios e prevenção- e, principalmente, que se respeite o direito de autonomia das mulheres."
Dulce Xavier, integrante do grupo Católicas pelo Direito de Decidir (São Paulo, SP)


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