São Paulo, quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

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RUY CASTRO

Moreau aos 80

RIO DE JANEIRO - Um dia, o cineasta Louis Malle a pôs para andar por Paris, à noite, iluminada apenas pelos néons e vitrines das lojas pelas quais passava. Ela não precisava falar nada, nem carregar nas expressões, nem olhar para a câmera. A platéia se encarregou de atribuir significados ao seu rosto. A atriz era Jeanne Moreau, e o filme, de 1957, "Ascensor para o Cadafalso".
Dali Jeanne continuou sendo posta para andar e despertar significados: em "Os Amantes", também de Malle (1958), "Moderato Cantabile", de Peter Brook (1960), "A Noite", de Antonioni (1960), "Eva", de Joseph Losey (1962), "Diário de uma Camareira", de Buñuel (1964), "A Noiva Estava de Preto", de Truffaut (1967). A cidade era quase sempre Paris, mas podia ser também Milão, Roma, Veneza, o litoral ou o interior da França.
Jeanne já tinha 29 anos e 20 filmes pelas costas quando Malle a descobriu. Os outros diretores a maquiavam demais, para disfarçar os círculos em volta de seus olhos e o rosto marcado, de quem acabara de fazer amor. Malle percebeu que a beleza de Jeanne estava exatamente aí e fotografou-a de rosto quase lavado em "Ascensor para o Cadafalso". Nascia uma estrela, que iria aposentar as três grandes damas do cinema francês: Michelle Morgan, Danielle Darrieux e Micheline Presle.
Para o público, seu personagem era ela mesma: a mulher inteligente, madura e independente. Mas os diretores sabiam que aquela era apenas uma de suas facetas como atriz e que Jeanne era capaz de fazer qualquer papel. E os íntimos garantem que, na vida real, ela sabia também miar, se necessário.
Jeanne Moreau completa hoje 80 anos, lúcida, firme e na ativa. Como Humphrey Bogart para as mulheres, ela ensinou aos homens que a beleza feminina mais duradoura podia estar nas imperfeições.


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