|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Moreau aos 80
RIO DE JANEIRO - Um dia, o cineasta Louis Malle a pôs para andar
por Paris, à noite, iluminada apenas
pelos néons e vitrines das lojas pelas quais passava. Ela não precisava
falar nada, nem carregar nas expressões, nem olhar para a câmera.
A platéia se encarregou de atribuir
significados ao seu rosto. A atriz era
Jeanne Moreau, e o filme, de 1957,
"Ascensor para o Cadafalso".
Dali Jeanne continuou sendo
posta para andar e despertar significados: em "Os Amantes", também
de Malle (1958), "Moderato Cantabile", de Peter Brook (1960), "A
Noite", de Antonioni (1960), "Eva",
de Joseph Losey (1962), "Diário de
uma Camareira", de Buñuel (1964),
"A Noiva Estava de Preto", de Truffaut (1967). A cidade era quase sempre Paris, mas podia ser também
Milão, Roma, Veneza, o litoral ou o
interior da França.
Jeanne já tinha 29 anos e 20 filmes pelas costas quando Malle a
descobriu. Os outros diretores a
maquiavam demais, para disfarçar
os círculos em volta de seus olhos e
o rosto marcado, de quem acabara
de fazer amor. Malle percebeu que a
beleza de Jeanne estava exatamente aí e fotografou-a de rosto quase
lavado em "Ascensor para o Cadafalso". Nascia uma estrela, que iria
aposentar as três grandes damas do
cinema francês: Michelle Morgan,
Danielle Darrieux e Micheline
Presle.
Para o público, seu personagem
era ela mesma: a mulher inteligente, madura e independente. Mas os
diretores sabiam que aquela era
apenas uma de suas facetas como
atriz e que Jeanne era capaz de fazer qualquer papel. E os íntimos garantem que, na vida real, ela sabia
também miar, se necessário.
Jeanne Moreau completa hoje 80
anos, lúcida, firme e na ativa. Como
Humphrey Bogart para as mulheres, ela ensinou aos homens que a
beleza feminina mais duradoura
podia estar nas imperfeições.
Texto Anterior: Brasília - Igor Gielow: Tapeação Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Terrorismo Índice
|