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FERNANDO GABEIRA
So help me God
RIO DE JANEIRO - Durante semanas os americanos discutiram o
dia da posse. Até o juramento alguns colocavam em dúvida. Radicais no passado já protestaram contra a presença de Deus no texto.
O mais discutido na véspera foi o
teor do discurso. Especialistas em
falas presidenciais passaram a semana dando conselhos. Roosevelt?
Só devemos temer o nosso medo.
Kennedy? Não pergunte o que o
país pode fazer por você... E toda essa coisa.
Uma canção brasileira bastaria
para inspirar Obama. Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima. E,
no início do discurso, reconheceu a
queda e não desanimou, exatamente como manda a letra.
Curioso que já usamos esta canção, quando Volta Redonda estava
no buraco. O slogan era: Volta Redonda, volta por cima.
Como os EUA não são Volta Redonda, Obama faz bem em contar
com a ajuda divina. Jornais observam como tudo mudou desde o início da campanha. Parece uma década. A GM estava bem, não havia
uma grave crise no ar. A própria necessidade de demonstrar que era
contra a guerra no Iraque, mas não
contra todas as guerras, o levou a
conservar Robert Gates na Defesa.
Como Obama vai tratar os inúmeros problemas imediatos e conduzir as questões de médio e longo
prazo? A combinação exata é difícil.
Como descer das nuvens da grande
expectativa para a realidade sem
causar frustração? Quer seguir os
passos de Roosevelt e conversar
muito com o país. Esta é uma transição delicada. Quando vi o casal
entrar na Casa Branca, pensei: tempos interessantes. Desses, tão complexos, que os chineses não desejam para ninguém. No discurso,
uma indicação: entre a segurança e
os nossos ideais, escolher os dois.
No dia seguinte, um ato: suspensão
dos processos de Guantánamo.
O êxito de Obama será um fio de
esperança contra o cinismo na política.
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