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JOSÉ SARNEY
Bush, por quê?
OBAMA É O SOL nascente.
Bush é a luz que se apaga.
Nestes seus oito anos fui inclemente com ele, sem saber se algumas vezes exagerei, mas a verdade é que a sua marca na história é
um grande desastre.
Suas reações diante dos desafios
de governar foram erradas e geraram hipotecas para o mundo que
permanecerão muito tempo. Assumiu a Presidência com os Estados
Unidos prósperos, superavitários,
única, isolada e incontrastável potência. Céu de brigadeiro. Surge
um raio, Bin Laden e o 11 de Setembro. Bush, pelo temperamento, pela sua formação pessoal, pela sua
personalidade, reage a tudo de maneira errada. Em vez de convocar o
mundo para a grande cooperação e
aliança contra o terrorismo, opta
por ser guerreiro, seu primeiro
pensamento foi invadir o Iraque,
só acredita na força das armas e
não das ideias (o contrário do que
afirmou Obama). Para gastar na
guerra e diminuir o imposto dos ricos, partiu para o déficit. Incentiva
o descontrole do mercado financeiro, a farra dos derivativos, a corrupção dos balanços das grandes
empresas. Liquida a economia
americana, que extrapola sua desgraça para o resto do mundo.
Dia 20 esse homem transmitiu o
governo a Obama. Em qualquer
parte do mundo ele seria execrado,
vaiado e, se pudesse, estraçalhado.
Mas nada disso aconteceu, e o novo
presidente disse: "Quero agradecer
ao presidente Bush os serviços que
prestou aos Estados Unidos e a maneira como conduziu a passagem
do poder". Nenhuma manifestação
do povo de protesto. Continua
Obama: "Em 233 anos de nossa democracia por aqui passaram só 44
americanos eleitos pela soberana
vontade da nação. Nenhum país
conseguiu tão longo período de estabilidade institucional". Bush retira-se. É tratado pelo povo ali reunido com respeito. Com todos os
seus defeitos, deu oito anos de sua
vida em favor do país. Rodeando-o,
ali estavam os ex-presidentes Clinton, Bush, pai, Carter. Não eram
pessoas, eram instituições e assim
faziam parte da história americana.
Pretos, brancos, amarelos, mestiços reunidos numa grande família, para festejar o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. A
poderosa democracia americana
mostra sua força. Velhos negros,
velhos brancos, veteranos e novatos, numa foto íntima, mostrando
ao mundo o governo do povo, seu
vigor, suas instituições. O passado
era o desastre: a herança de duas
guerras e a maior crise econômica
do século. Mas a tudo isso sobreviveu, graças à liberdade, liberdade
de escolher, de realizar a busca da
felicidade de que falou Jefferson, o
sonho americano, exemplo para
todos nós.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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