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CESAR MAIA
Segurança de classe
A PREOCUPAÇÃO dos governos com sua imagem em relação à segurança pública
tem a ver com a forma com que a
classe média-alta reage à insegurança. O Rio é um exemplo.
Os segmentos de renda superior
estão concentrados na zona sul, região das praias mais conhecidas. É
essa concentração que define as
prioridades de segurança em relação à alocação de pessoal, recursos
e equipamentos. O indicador de insegurança e criminalidade adotado
é sempre o índice resultante dos
homicídios dolosos por cem mil
habitantes (IHD-100).
Na cidade
do Rio, o IHD-100 é de 35. Isso exclui outros tipos de mortes violentas (confrontos, ossadas e corpos
achados...) e os homicídios culposos (mortes no trânsito...).
A zona sul do Rio tem 600 mil
habitantes e três batalhões da Polícia Militar com efetivo definido de
400 policiais por batalhão -1.200
policiais.
É subdividida pela Secretaria de Segurança em três áreas de
segurança: Aisp 2, 19 e 23. Segundo
o Instituto de Segurança Pública
(ISP), na primeira área, o IHD-100
em 2008 foi de 8,6.
Na segunda, de
2,1. Na terceira, de 11. Em toda a zona sul, houve em 2008 49 homicídios dolosos -um IHD-100 de 8,1.
A introdução das unidades pacificadoras (UPP), ocupando totalmente favelas, foi uma medida positiva, em tese, e iniciada em quatro
pequenas favelas da zona sul que
somam 20 mil habitantes. Em cada
UPP, são 150 PMs deslocados, ou
600 PMs no total, ou seja, um batalhão e meio da PM para 20 mil
habitantes.
Do outro lado, uma grande região da zona norte, com 850 mil habitantes, classificada pela Secretaria de Segurança como área de segurança número 9 (Aisp 9), tem
apenas um batalhão da Polícia Militar, portanto, um efetivo desejado
de 400 policiais.
Tem 94 comunidades pobres dominadas por traficantes, segundo informou à imprensa o relações públicas da PM
após quatro mortes por balas perdidas três semanas atrás. Aqui, segundo o ISP, em 2008 o IHD-100
foi de 52,5, ou 50% maior que a média da cidade e 6,5 vezes maior que
na zona sul. Na Aisp 9, em 2008,
ocorreram 446 homicídios dolosos, ou quase dez vezes mais que na
zona sul (49).
As quatro UPPs da zona sul têm,
para 20 mil pessoas, um efetivo de
PMs 50% maior que a Aisp 9, com
850 mil pessoas. Em 2009, segundo o ISP, o número de homicídios
dolosos nessa região cresceu 15%, e
nenhuma medida adicional foi
adotada.
Em 2007, por quatro meses, a
Secretaria de Segurança e a Força
Nacional ocuparam o Complexo do
Alemão (Aisp 22) até com barricadas. Foram 40 mortos informados.
Em 2008, alegando obras, saiu e
nunca mais voltou. Em 2009, os
homicídios dolosos nessa região
cresceram 31% em relação a 2008.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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