São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 1999

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A TRAGÉDIA IUGOSLAVA

O nome de Kosovo, província sérvia incrustada nos Bálcãs, tornou-se sinônimo de atrocidades com motivação étnica. A última delas ocorreu na semana passada, na cidade de Racak, quando tropas iugoslavas teriam assassinado um grupo de mais de 40 civis de origem albanesa.
O quebra-cabeça da região é complicado. A antiga Iugoslávia se esfacelou com o fim do comunismo. Das seis repúblicas que a compunham, só duas, Sérvia e Montenegro, permaneceram na federação. Kosovo é parte do território sérvio, havendo sobre isso consenso internacional.
Em 1992, os separatistas de Kosovo proclamaram a independência, tentando seguir o exemplo da Croácia, Eslovênia, Bósnia e Macedônia. O governo iugoslavo reagiu. Os separatistas pegaram em armas e, desde então, uma guerra civil com combates intermitentes tem manchado de sangue aquele território balcânico.
A dimensão étnica do conflito vem do fato de que em Kosovo só um décimo da população é de origem cristã e identificada com os sérvios. Os demais são descendentes de albaneses e de cultura muçulmana.
O conflito ocorre dentro da Europa, onde pressões conjuntas da ONU e da Otan procuram forçar o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic, a conter a crueldade de suas tropas. Em lugar de fazê-lo, no entanto, ele tentou expulsar o chefe da Missão Internacional de Verificação, o diplomata William Walker, que havia denunciado o massacre em Racak.
Aviões da Otan foram mobilizados para eventuais ataques a instalações iugoslavas. O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e o secretário norte-americano de Defesa, William Cohen, reiteram ultimatos, recebidos até agora com ouvidos moucos.
O uso da força deve ser evitado ao máximo. Mas todos os recursos são moralmente justificáveis para que Kosovo não se transforme numa versão atualizada da Bósnia, onde chacinas se sucederam sem que a comunidade internacional tivesse nenhum poder de intervenção.



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