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O incêndio em Mariana
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
O fogo apenas começou e já se alastrava violentamente pelo forro e telhado da bela e veneranda igreja de Nossa
Senhora do Carmo, em Mariana. O
incêndio foi rápido e incontrolável.
Estavam os operários levando adiante, com alto rigor técnico, o árduo trabalho de descupinização. As antigas
igrejas, principalmente em Mariana,
estão sendo atacadas pelo cupim.
Com apoio cultural e econômico do
BNDES foi possível, após a licitação
entre as empresas, proceder, no final
de 98 e neste ano, à preservação de
várias igrejas.
Que terá acontecido na tarde de
quarta-feira, dia 20? Foi um acidente.
Aguardamos o laudo dos técnicos. A
suspeita é que a explosão de uma lâmpada acarretou um curto-circuito. A
faísca passou para as substâncias inflamáveis utilizadas na eliminação dos
cupins. Seguiu-se o incêndio que destruiu o teto e o interior do templo.
A igreja do Carmo, terminada no
fim do século 18, compõe, com a igreja de São Francisco de Assis e o antigo
presídio, hoje Câmara dos Vereadores, a mais bela vista de Mariana. Nos
últimos dez anos era precária a situação do telhado e, quando um florão
de largas proporções caiu do alto sobre o altar, foi preciso interditar a
igreja, à espera de recursos adequados
para a futura reforma.
Nos anos de 94-97, sob a presidência
do dr. Francisco José Schettino, a
Companhia Vale do Rio Doce, conforme o próprio estatuto, destinou
verba anual a projetos culturais e sociais nas cidades onde são extraídos
minérios.
Entre os projetos aprovados em 95
estava a restauração da igreja do Carmo, em Mariana. Os trabalhos, sob a
competente orientação do Iphan, começaram pelo telhado e pela estrutura
de sustentação. Nos anos seguintes,
novos projetos incluíam reforma do
forro, sistema elétrico e pintura. Mesmo sem os últimos acabamentos nos
altares e na sacristia, para grande alegria do povo, as portas foram abertas
e a igreja devolvida ao culto. A generosidade da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo contribuiu com alfaias e paramentos.
Desde então, as celebrações litúrgicas realizavam-se com regularidade e
muita participação dos fiéis.
A orientação da Vale do Rio Doce,
após a privatização, modificou a decisão de financiar obras em apoio às comunidades. No entanto, em 98, o
BNDES, ao lançar amplo programa de
restauração e conservação de monumentos históricos, não só acolheu o
projeto de complementação dos trabalhos na igreja do Carmo como a incluiu entre os prédios que receberiam
urgente descupinização. Tudo procedia bem e, com a fiscalização do Iphan
e o maior cuidado dos técnicos e operários, faltava pouco para concluir a
reforma. Ninguém podia prever que
as chamas do dia 20 consumiriam tão
rápido o templo restaurado em quatro
anos. Ao primeiro alarde do fogo, os
sinos das igrejas convocaram o povo,
que acudiu de todos os lados. Vendo
as labaredas, muitas chamas, muitos
choravam.
A cidade de Mariana não dispõe de
serviços de bombeiros capazes de sustar um incêndio tão violento, e socorros distantes tardariam a chegar. Em
poucos minutos o teto desabou.
Graças a Deus não houve vítimas. O
altar-mor com as hóstias consagradas
foi preservado. A diligência dos vizinhos conseguiu salvar várias imagens.
Resta agora reunir forças. O ministro
da Cultura já ofereceu seu apoio. Estou certo de que não faltará cooperação do povo e dos órgãos governamentais, a fim de reconstruir, quanto
antes e com amor, o santuário de
Nossa Senhora do Carmo, padroeira
querida da cidade de Mariana.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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