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Convenioduto
Acordos entre Ministério do Trabalho e entidades ligadas ao PDT cercam de graves suspeitas atuação do ministro Carlos Lupi
"FALHAS administrativas", para empregar
a suave terminologia do presidente
Lula, custaram a Matilde Ribeiro
o cargo de ministra da Igualdade
Racial. Sua participação no caso
dos cartões corporativos, amplamente noticiada, não requer rememoração.
Seria interessante saber, entretanto, quais os termos que Lula empregaria para qualificar as
decisões de outro ministro seu, o
pedetista Carlos Lupi.
Inicialmente, sua presença na
pasta do Trabalho não despertou
maiores atenções, do ponto de
vista ético, a não ser por uma
questão de relevância discutível.
Lupi era presidente do PDT
quando foi nomeado ministro do
Trabalho.
Continuou presidente do partido, e continua ministro, polemizando abertamente com os
membros da Comissão de Ética
Pública -o anêmico organismo
federal encarregado de pronunciar-se, em suas reuniões mensais, sobre dilemas desse tipo.
Comentário recente nesta seção assinalava que, teoricamente, o acúmulo de cargos por si só
não constituiria irregularidade
comparável a tudo o que se conhece de escândalos na administração pública brasileira.
Da teoria à prática, todavia, o
atual ministro do Trabalho deu
mostras de passar sem perda de
tempo.
De 30 de novembro de 2007 a
10 de janeiro de 2008, o ministério firmou convênios com 30 entidades para treinamento de jovens trabalhadores. Desse total,
12 organizações ligadas ao partido do ministro receberam R$ 70
milhões, quase a metade da verba para essa finalidade.
Entre as entidades contempladas pelo programa, contam-se,
por exemplo, o Grupo Mulher
Maravilha, de Pernambuco (R$
2,3 milhões) e a Associação São
Vicente de Paulo, da cidade paulista de Catanduva (R$ 4,07 milhões). A primeira foi recomendada por um deputado federal
pedetista; a segunda é dirigida
por um militante do partido,
provável candidato a vice-prefeito nas próximas eleições.
Enquanto isso, o ministério
também defende acordo com a
Confederação Nacional de Trabalhadores Metalúrgicos, para
um plano de recolocação de
mão-de-obra. A CNTM é filiada à
Força Sindical, que tem como
presidente um pedetista, o deputado Paulo Pereira da Silva.
Reportagem da Folha revelou
que o ministério de Lupi pretendia destinar ao programa gastos
quase 100% maiores do que os
do governo estadual para realizar o mesmo serviço. Tão logo
noticiado o caso, providenciou-se um abatimento de emergência no montante a ser transferido -o que só vem acentuar as
suspeitas de superfaturamento.
Desde a polêmica em torno
dos dois cargos de Lupi, o presidente Lula vinha na prática desautorizando as recomendações
da Comissão de Ética. Diante
dos últimos fatos, o silêncio de
Lula se mostra ainda mais intrigante. Talvez cogite de novos eufemismos para qualificar o convenioduto. "Falha administrativa", com certeza, é um termo
que já não cabe repetir.
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