|
Próximo Texto | Índice
Ameaça grave
Desconfiança entre os bancos debilita sistema de crédito e aumenta
os riscos de recessão profunda nos EUA
A TURBULÊNCIA financeira nos países ricos evoluiu para o início de
uma crise bancária. A
história econômica registra vários episódios de quebra de grandes bancos. Embora cada um tenha suas especificidades, esse tipo de crise sempre implica alto
potencial destrutivo.
Como na crise associada à dívida externa dos países em desenvolvimento, no início dos anos
1980, o foco das dificuldades
atuais reside na desconfiança entre os grandes bancos internacionais. A raiz do descrédito é a
incerteza a respeito do grau em
que cada instituição aplicou recursos na compra de títulos lastreados em operações de crédito
habitacional de altíssimo risco,
oriundas dos EUA. Os bancos relutam em emprestar dinheiro
uns aos outros, com receio de
que o devedor se revele, de súbito, inadimplente.
Essa é a razão pela qual as gigantescas injeções de dinheiro
promovidas pelos bancos centrais não se mostram eficazes,
nem mesmo acompanhadas de
agressivos cortes na taxa de juros
nos Estados Unidos. O capital é
barato e abundante, mas não flui.
Tal represamento, justamente
no âmago do sistema de crédito,
o mercado interbancário, ameaça reproduzir-se nos demais segmentos, criando uma secura de
crédito capaz de provocar uma
recessão brutal.
Não se trata de uma hipótese
acadêmica. Alan Greenspan, ex-presidente do Fed (o banco central norte-americano), tem alertado que os EUA podem estar ingressando na sua mais grave crise do período posterior à Segunda Guerra Mundial. Deixa implícito, assim, que pode haver um
paralelo com a Grande Depressão do século passado.
Reconhecer esse risco, no entanto, não é o mesmo que considerá-lo incontornável. O trauma
dos anos 1930 propiciou doloroso aprendizado. As autoridades
econômicas dispõem de muito
mais instrumentos para tentar
interromper o processo do que
há 80 anos.
Além disso, os países menos
desenvolvidos -tradicional "elo
fraco" da cadeia de relações econômicas internacionais- ao longo dos últimos anos reduziram a
vulnerabilidade de suas contas
externas. Certamente estimulou
esse movimento o trauma das
sucessivas crises financeiras que
vitimaram muitas dessas nações,
com destaque óbvio para o Brasil, no final do século passado e
no início do atual.
Não há como afirmar que esses
aspectos bastarão para impedir
um desfecho destrutivo da crise
no plano global. Mas seria difícil
negar que estão demonstradas as
graves limitações do atual arcabouço de regulação do sistema financeiro internacional.
Após a crise dos anos 1980, as
autoridades econômicas estabeleceram novas normas na tentativa de conferir mais solidez ao
sistema bancário global. Permitiu-se, contudo, que os bancos
transferissem riscos para fora
dos seus balanços. Foram esses
ramos imunes à supervisão, bem
como os chamados "hedge
funds" (fundos altamente especulativos), que estrelaram a rodada de supervalorização artificial de ativos que agora se esgota.
O legado dessa farra ameaça gravemente a economia mundial.
Próximo Texto: Editoriais: Itaipu vai às urnas
Índice
|