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Obama reanimado
Aprovação da polêmica reforma da saúde, que aumenta interferência do Estado, dá novo fôlego ao presidente democrata
DESENGANADA POR muitos especialistas, a legislação que deve levar
cobertura médica a 32
milhões de norte-americanos
desassistidos sobreviveu. A
aprovação da reforma do sistema
de saúde dos Estados Unidos, anteontem na Câmara dos Representantes, propiciou também sobrevida política para o presidente do país, Barack Obama.
O mandatário arriscou seu já
combalido cacife político para
reunir, na noite de domingo, os
219 votos que lhe deram apertada maioria sobre os 212 escrutínios contrários às mudanças. Republicanos se uniram contra o
texto -e até a última hora muitos parlamentares democratas
ainda relutavam em apoiá-lo.
Acuado pela oposição conservadora, que o acusa de aumentar
a interferência do Estado na vida
dos cidadãos, o líder da grande
potência, caso fosse derrotado,
arriscava-se a se transformar
num "pato manco" com pouco
mais de um ano de mandato.
Nessa hipótese, ganhariam
ânimo setores ideologicamente
radicais, de Washington ao
Oriente Médio -que poderiam
colocar em risco os esforços para
superar a crise econômica e os
obstáculos do front externo.
O momento político se modifica com o resultado favorável a
Obama. Sua conquista pode ser
considerada histórica, comparável à criação do sistema de seguridade do país, nos anos 1930.
A reforma prevê a obrigatoriedade de seguro médico para a
quase totalidade dos cidadãos. O
equivalente a 10% da população,
antes desprovida de planos de
saúde por razões financeiras,
passa a contar com subsídios estatais para adquiri-los.
Pelas novas regras, empresas
com mais de 50 funcionários deverão oferecer o benefício a seus
empregados. Também aumentam as exigências a serem cumpridas pelas seguradoras, que
não poderão negar cobertura por
doenças preexistentes. Calcula-se em mais de US$ 900 bilhões,
ou 6% do PIB, os gastos do novo
sistema nos próximos dez anos.
Parte dos recursos será recolhida por meio da elevação de
impostos para as famílias que ganham mais de US$ 200 mil
anuais. Ainda que se baseie em
um projeto de ampliação da assistência por intermédio do mercado, e não por atuação direta do
setor público, a reforma diminui
a distância entre os ideais americanos de um Estado apenas regulador e o modelo de bem-estar
social consagrado na Europa.
A carga tributária dos EUA,
abaixo dos 30% do PIB, poderá,
com o tempo, se aproximar dos
patamares de países europeus
-nos quais o peso dos impostos
é de pelo menos 40%.
Ainda é uma incógnita se Obama convencerá os norte-americanos, especialmente avessos a
aumentos de tributos, de que este é o caminho a trilhar. Segundo
pesquisas de opinião, a maioria
dos eleitores é contrária à reforma da saúde. O grande teste será
a eleição para o Congresso, em
novembro.
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