São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES No combate à fome de livro
OSWALDO SICILIANO
A falta de clientes vai gerar reflexos nos problemas estruturais do setor livreiro. Existem hoje no Brasil aproximadamente 700 livrarias (na acepção clássica do termo, não incluindo outros pontos-de-venda, como supermercados, papelarias, bancas de jornal), quando o ideal, para atender um país de dimensões continentais como o nosso, seria algo em torno de 10 mil. Diante de tal quadro, abrir livrarias, principalmente fora do eixo Sudeste-Sul, é quase um ato de heroísmo. Mas isso tende a mudar. Percebe-se no governo federal e na população uma vontade muito grande de combater a fome de livros e reescrever esse capítulo de nossa história com um final feliz. O Ministério da Educação já realiza um importante trabalho com o Programa Nacional do Livro Didático. Desde que foi implantado, o projeto vem democratizando, sistematicamente, o acesso à leitura e erradicando o analfabetismo. A reativação do Instituto Nacional do Livro, rebatizado de Instituto Nacional do Livro e da Leitura, também é um ato louvável para a elevação da imagem do livro a patamares compatíveis com sua importância cultural, social e econômica. O governo goza também de muitos instrumentos para fomentar a indústria editorial e incrementar a circulação de livros não-didáticos no Brasil. Suas ações podem se concretizar na área tributária e fiscal, incentivando cada vez mais a produção e a distribuição. A concessão, por parte do BNDES, de uma linha de crédito especial para empresários interessados em abrir livrarias no interior do país seria uma medida extremamente oportuna. Com o redesenho do mapa de pontos-de-venda, abrangendo áreas não desbravadas do interior brasileiro, a expectativa é que ocorra o aumento da tiragem média por obra e, consequentemente, o rateamento do custo e o barateamento do livro. Entre outras medidas para vencer o desafio da carência do livro, o poder público poderia ampliar o número de bibliotecas com um acervo mínimo de novos lançamentos, o que aumentaria a tiragem dos livros, com a consequente redução de seu custo unitário nas livrarias, e ampliaria o acesso da população aos mesmos. Por fim, é preciso um esforço em conjunto dos órgãos governamentais, entidades do setor, meios de comunicação, professores, literatos e adeptos da leitura em geral para disseminar o conceito de que o livro deve ser visto primeiramente e antes de tudo como uma opção de lazer. Essa é a feliz realidade em todos os países em que se lê muito. Oswaldo Siciliano, 71, livreiro e editor, é presidente da Câmara Brasileira do Livro. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Júlio Neves: Masp: passado, presente e futuro Índice |
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