São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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"NORMALIDADE"

O desemprego na grande São Paulo voltou a subir de fevereiro para março. Segundo pesquisa feita pelo Seade e pelo Dieese, os sem-emprego chegaram a 20,6% da população economicamente ativa. É um nível recorde, registrado em apenas três outras oportunidades pela pesquisa (que começou a ser realizada em 1985), e o mais alto já verificado num mês de março.
Para piorar, a alta da taxa de desemprego não resultou de um aumento do número de pessoas à procura de trabalho, como às vezes ocorre nos momentos iniciais de uma reativação da economia. Nessas conjunturas, é comum que voltem ao mercado de trabalho aqueles que haviam, por desalento, deixado de procurar uma vaga. A pesquisa apurou, porém, que 20 mil pessoas desistiram de buscar trabalho, enquanto outras 94 mil perderam seus empregos. Outro aspecto negativo foi a constatação de que caiu o poder de compra médio dos que estão em atividade.
Esses resultados reúnem evidências de que a propalada retomada continua se revelando insuficiente para estimular uma reação nítida do mercado de trabalho, o que suscita dúvidas a respeito de seu fôlego.
Se há sinais de melhoria nas regiões mais beneficiadas pelo dinamismo das exportações do agronegócio, nas grandes cidades a evolução continua adversa. Isso fica claro ao se observar que, nas outras cinco regiões metropolitanas onde se realizam pesquisas com metodologia equivalente à do Seade e do Dieese, os resultados têm sido similares aos verificados na grande São Paulo .
Essas constatações contrastam com a tranqüilidade em relação ao ritmo de reativação da economia e do mercado de trabalho demonstrada pelo Banco Central. De acordo com a ata da reunião de abril do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, o ambiente macroeconômico estaria a se "normalizar", o que justificaria a redução do ritmo de redução da taxa de juros. Convenha-se que é difícil considerar normal o atual nível de desemprego urbano.


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