São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Chiou, levou

BRASÍLIA - Entre as muitas bananosas em que se meteu, o governo está especialmente empenhado em resolver uma: a pressão (justa) por aumentos de salários do setor público.
A greve da PF abriu uma espécie de temporada de paralisações de servidores. O governo podERia ter dado um basta preventivo desde ali. Não deu e multiplicou os "inimigos". Não foi por falta de aviso.
Agora, o Planalto comanda uma operação para reverter as situações desconfortáveis, dar alguma resposta às pressões e mostrar que está atuando -leia-se: governando. É assim que Lula quer, é assim que mandou fazer. Até porque é a popularidade dele que está em jogo. E vem caindo...
Significa que, até agora, os argumentos técnicos vinham ganhando das posições políticas na eterna e insolúvel disputa de opções quando há muitos pleitos e poucos recursos. Agora, o governo tende a abrir os cofres -e seja o que Deus quiser.
O Planalto e o Planejamento trabalham febrilmente para dar reajustes às principais categorias, para atender aos pleitos dos procuradores da União (que, por exemplo, garantem arrecadação e evitam derrotas na Justiça) e para estimular certas áreas. Ou seja: para financiar programas dos ministérios. Vem aí mais grana para reforma agrária, para estradas esburacadas pelas chuvas, para compra de armamento militar.
É bom, mas um risco. A gente vive criticando o arrocho e a ortodoxia, cobrando flexibilização, mas, quando ela parece vir, todo mundo se assusta e começa a se perguntar sobre os efeitos a médio e a longo prazo.
Pois é, o difícil é a calibragem entre política e contas públicas, entre pesquisas de opinião e gráficos de gastos, entre greves e folhas de pagamento. Se fosse fácil, não precisava de governo. E, se não soubesse fazer, que não virasse governo.
Lula vive um momento decisivo, pós-Waldomiro e em meio a tanta efervescência no campo e nas cidades. Tem de se superar. Entre o político Lula que ele sempre foi e o administrador Lula que ele nunca foi, qual dos dois vai ganhar?


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