São Paulo, sábado, 23 de abril de 2011

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RANIER BRAGON

De onde menos se espera

BRASÍLIA - O Congresso talvez seja a mais simbólica inspiração para o chavão de que o Brasil só "engrena" após o Carnaval ou a Semana Santa. Particularidades atuais, porém, têm levado entendidos a prever sobrevida ao terrível ciclo de tédio que paira sobre os tapetes verdes e azuis de Câmara e Senado.
Governo de continuidade soa calmaria. E Dilma Rousseff, choramingam até os petistas, tem se esquivado de participar do atacado e varejo das negociações legislativas.
A situação desola grande parte da classe política, habitual dependente do ecoar dos trompetes do Planalto para saber em que direção marchar. Mesmo assim, a infantaria de Dilma projeta-se ainda maior com o PSD, aquele que não será de esquerda, centro ou direita, desde que governista.
Essa geleia chapa-branca favorece a previsibilidade. Não há no horizonte ameaça de CPI que de fato cause rugas ao Palácio. O ritmo de projetos aprovados pelo plenário da Câmara também anda cadenciado: 25, contra 33 de Lula-2003. Ou seja, uma sem-gracice sem fim.
Isso talvez contribua para a certa dispersão flagrada pelo humorístico-jornalístico "CQC", a quem alguns deputados não souberam dizer quem é a onipresente figura do noticiário que comanda a Líbia.
Mas prognósticos de longo marasmo no Congresso costumam engordar o sindicato dos maus profetas. Dilma terá mais cedo ou mais tarde que soprar o seu clarim. A oposição mirrou, não morreu, e a história mostra que a panela de pressão de interesses do Legislativo é sensibilíssima a coisas como recusas a cargos e verbas. Sem falar na sempre azeitada usina de escândalos, alimentada em boa parte pela autogenerosidade na aplicação de um orçamento próprio da ordem de R$ 7,6 bilhões, maior do que o de Estados como Sergipe.
Daria para concluir com aquela história de que tudo pode acontecer, inclusive nada, mas acho que mais de dois clichês por texto deve ferir alguma lei federal.

ranier.bragon@grupofolha.com.br


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